DOM PEDRO II E VICTOR HUGO

1996
FOTO DE DOM PEDRO II E SEU AMIGO VICTOR HUGO.

DOM PEDRO II e VICTOR HUGO

Passagem relatada pelo escritor Laurentino Gomes, em sua obra 1889 e que merece registro no espaço do site: LEITURA SELECIONADA.

Nas suas viagens ao exterior, Dom Pedro II foi colecionando uma impressionante galeria de celebridades internacionais do meio artístico, científico e intelectual, com as quais se correspondeu até o fim da vida. Alista inclui os portugueses Camilo Castelo Branco, Almeida Garret e Alexandre Herculano, os franceses Victor Hugo, Lamartine e Pasteur, o alemão Richard Wagner.

Um exemplo da devoção e do respeito que dedicava aos intelectuais e às idéias do século XIX foi seu encontro com Victor Hugo, em 1877, em Paris. Aos 75 anos, autor de algumas das obras mais importantes da literatura universal, como o romance Os miseráveis, Victor Hugo era a maior celebridade da França na época. Havia se convertido também em ativista político radical, senador da esquerda republicana, e detestava os regimes monárquicos. Ele e Dom Pedro II estavam, portanto, em lados opostos do espectro político. Aparentemente, nenhum dos dois teria nada a ganhar com um encontro que pudesse ser divulgado publicamente.

Para os monarquistas, soaria como uma concessão desnecessária aos ideais republicanos, que a essa altura já tinha um número considerável de adeptos no Brasil. Para os republicanos, franceses e brasileiros, também soaria mal a reunião de um dos maiores expoentes mundiais com o velho monarca, que acusavam de gastar o tempo ocioso em tertúlias intelectuais na Europa.

Dom Pedro ignorou todas as ponderações e decidiu, por conta própria, procurar Victor Hugo, a quem admirava profundamente. Por intermédio da embaixada brasileira, mandou perguntar se o escritor concordaria em visitá-lo no hotel em que estava hospedado em Paris. A resposta veio seca e dura: “Victor Hugo não vai à casa de ninguém…”. Depois de mais duas tentativas e duas recusas, Dom Pedro decidiu ir pessoalmente, e sozinho, ao apartamento do escritor, situado no quarto andar de um prédio da rue de Clichy, 21, no centro da capital francesa.

Sem aviso prévio, bateu à sua porta na manhã de 22 de maio. A surpresa desarmou o grande escritor, que não só concordo em receber o ilustre visitante como se tornou amigo e admirador dele pelo resto da vida. O primeiro encontro durou várias horas. Dois dias mais tarde, foi a vez de Victor Hugo visitá-lo no hotel. No dia 29, novamente o imperador foi à casa dele. Victor Hugo morreu oito anos mais tarde, em 1885. O respeito entre os dois era tão grande que, ao saber da morte de Dom Pedro, em 1891, a filha do escritor fez questão de presta-lhe homenagens fúnebres.