DEOGAR SOARES

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No Estúdio da Rádio ALFA-FM levando ao ar a sua maravilhosa crônica diária: VOO LIVRE!

DEOGAR SOARES
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– Gurizinho, precisamos aprender a sentir as dores alheias. Foi a primeira coisa que ouvi dele quando eu tinha 17 anos. Nos tornamos grandes amigos e sempre tive todo o tempo do mundo para ouvir a pureza de seus conselhos. Num fim de tarde segredou-me: – As pessoas são surpreendentes, vivem de aparências. Aguarda pela reportagem diferenciada que pretendo fazer no decorrer desta semana. E não disse mais nada.
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Fernando Lessa Freitas, Deogar e Clayton Rocha. Visita Papal durante a Guerra das Malvinas. Uma grande cobertura!

Na semana seguinte lá estava ele: vestido de mendigo, irreconhecível, perambulando pelas ruas da cidade. O destino final? Pernoitar no Albergue Noturno da Dona Magda Costa. E o fez com alto talento. Carregava consigo a sua gravadora, que registraria sinais de empáfia e de desprezo, de frieza e de crueldade, de desconsideração absoluta e de demonstrações de escárnio. Guardou consigo as gargalhadas debochadas que o perseguiram durante as suas caminhadas. Pediu miseráveis moedas e recebeu palavras humilhantes em contrapartida. Mas entre iguais – lá no interior daquele Albergue Noturno – foi tratado com sinais de respeito e de intermináveis silêncios.
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Comovidamente contou-me, semanas depois, todos os detalhes de sua amarga experiência. Guardei, lá na eletricidade daqueles meus dezessete anos, e no mais fundo do meu peito, aquele gesto diferenciado e surpreendente. Quero crer que isso sirva para explicar agora o meu envolvimento pessoal – ao lado de centenas de pessoas admiráveis – em relação a tudo aquilo que possa dizer respeito ao Albergue Noturno Pelotense.
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Pois sinto que vejo a silhueta do ” Velho” entre nuvens, numa das escalas do seu voo Livre, ainda vestido de mendigo, com um recado que me é dado através daquele seu dedo erguido, num sinal de aprovação que se deixa acompanhar por um generoso sorriso. Retribuir de que jeito? Só mesmo através de uma prece. (CR).