ARTIGO – AH…O SANATA… AQUILO SIM ERA BOATE

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AH…O SANATA… AQUILO SIM ERA BOATE

Ivan Duarte*

Antes que me julguem…Foi antes d’eu me tornar uma pessoa de família. Eu era jovem. Não tinha noção. Era apenas um rapaz latino americano sem dinheiro, sem parentes importantes e vindo do interior (de Bagé)…E estava no descaminho…

Sei que poucos acreditarão, mas eu só bebia…Era a boate do direito de sexta. Que começava às 3 da manhã de sábado. E eu, igualzinho ao fim de semana passado, cantava, ria e misturava Polar com Waleska, Sangue de Boi, 7 Campos…e dançando muito o pavão misterioso, a manga rosa, o Taj Mahal, o Led Zeppelin, Caetano, Gal, Gil, Amelinha, Zé Ramalho, Ednardo, Jorge Ben, Pink Floid, Belchior, Rita Lee, Raul… rock, forró, xote, baião, samba, funk…

Sanata era nosso Woodstock. Só que, com música melhor. Todas as tribos excluídas eram bem vindas. Principalmente os boletero, os maconhero, os cachacero, bichas e putas pobres…

Sei que poucos acreditarão, mas eu só bebia. Pelas 6h, algum espírito me avisou que eu deveria ir pra casa. Eu morava sozinho. A umas 20 quadras do Sanata. Mas, antes, o mesmo espírito me fez comprar um Baurú completo no Sanata Lanches. E me orientou que eu colocasse no bolso da jaqueta, para comer em casa. Tudo girava.

Minha casa deve ter passado por mim… E eu devo ter entrado…(Lapso…) Só lembro que acordei às 16h (ou 18h)… deitado, com toda roupa que fui na boate, no sofá, o único móvel da sala da minha casa. O cheiro era de um imenso cinzeiro, pois era permitido fumar no interior da boate. E TODOS fumavam. Fumavam até cigarro! Porque o sofá tá úmido??? Estranho…(novo lapso).

Era um bife no pescoço, tomate e alface nos cabelos, ovo, maionese, ketchup,  mostarda por todo sofá…E no pão, uma mordida…(Outro lapso…).

Me recompus. Tomei até banho.
Naquele sábado fui de novo no Sanata… Começou as 3 da madrugada de domingo.

Resolvi me alimentar antes…Um suculento miojo… E lá fomos nós….eu e meu espírito…

*Psicólogo, ex-vereador e candidato a prefeito de Pelotas.