DOIS GESTOS DE GRANDEZA HUMANA!
Clayton Rocha*
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Governador Leonel Brizola diante do pedido de Dona Lory Huber. Nailê Russomano, sem hesitações, em favor da Escola Louis Braille.
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Um episódio marcante, lá atrás no tempo, jamais saiu de minha memória. Dona Lory Huber, uma líder notável, diz a Leonel de Moura Brizola: – Governador, eu preciso de uma pequena sala e de uma escrivaninha para poder trabalhar! Conto com o senhor. A resposta – surpreendente – veio de imediato: Dona Lory, infelizmente eu não tenho uma salinha e uma escrivaninha para oferecer à Senhora!
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Depois de alguns segundos de silêncio, agora de sorriso aberto, e abraçando-a comovidamente, Leonel Brizola lhe responde: – Dona Lory, eu vou oferecer um prédio inteiro à Senhora!
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Algumas décadas depois, Dilmar Cunha Rodrigues, presidente da Louis Braille, diz ao microfone do 13 Horas: – Nós vamos reformar toda a Escola e precisaremos alugar um casarão por um ano!
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Guardei aquela sua frase até ao anoitecer. E então, diante do computador, resolvi narrar o episódio em detalhes, acrescentando, tão somente: – Quem sabe, emprestar em vez de alugar!
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A Dra. Nailê Russomano, proprietária do casarão da Cassiano, e filha da nossa saudosa e estimada Dra. Rosah Russomano, respondeu-me em questão de minutos, dizendo-me que aquela frase – Quem sabe, emprestar em vez de alugar! – foi o “sinal” para a sua decisão: A casa da Cassiano seria emprestada, por um ano, para a Escola Louis Braille!
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A última quinta-feira foi um dia perfeito, e todos já tivemos aqueles momentos perfeitos, quando as coisas se encaixam de forma quase inacreditável, quando eventos que não poderiam ter sido previstos, muito menos controlados, parecem guiar, de forma extraordinária, o nosso caminhar. E nesses momentos temos a impressão de que um auxílio extra nos é oferecido por mãos invisíveis.
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A título de registro e a propósito do tema: Mozart Víctor Russomano nasceu naquela casa da Cassiano, ao meio-dia de 5 de julho de 1922. E Rosah Russomano, a sua irmã, depois dona da casa, participou do Debate 13 Horas desde o seu primeiro dia: aquele já distante 6 de novembro de 1978.
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Por todas essas razões, passei a experimentar desde ontem um “estado de graça” que serve para fortalecer a alma humana, além de mostrar-nos que uma boa causa, desde que seja narrada com um profundo respeito ao nosso semelhante, além de merecer a nossa própria compreensão quanto às necessidades de um deficiente visual, pode ser abraçada pelos gestos elevados de terceiros, tendo-se como exemplo essa atitude da professora Nailê Russomano, merecedora do amém de todos os Altares além da gratidão de uma cidade inteira. (CR).
*Jornalista e coordenador do Treze Horas desde 6 de novembro de 1978.