ARTIGO – TREZE HORAS, 41 ANOS. OS SIGNIFICADOS SEMPRE ATUAIS DE UM PROGRAMA-PATRIMÔNIO

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Paula Shild Mascarenhas

Faz quarenta e um anos que os inícios de tarde de Pelotas provocam um entusiasmo especial a quem aprecia a polêmica, o debate de idéias, a construção do pensamento a partir da divergência. Tal hábito, aliás, revela-se especialmente salutar no momento que atravessa o Brasil. Nunca se viu uma sociedade tão dividida, tão intolerante com o pensamento divergente, tão ensimesmada em suas próprias contradições.

Se o Programa Treze Horas não viesse embalando as tardes pelotenses nessas mais de quatro décadas, seria o momento de inventá-lo. Porque não há nada mais democrático do que a mesa de debates do velho Salão Amarelo. Clayton Rocha e sua equipe talvez não imaginassem nos idos de 78 que o Programa chegaria jovem e atual em 2019. Mas podiam quem sabe sonhar com isso. O que certamente não imaginariam é o quanto em 2019 o programa teria de significado nas circunstâncias vividas pelo país. Afinal, em pleno regime autoritário, pareceria mais crucial propor uma transmissão pautada pelo debate livre do que trinta anos depois da abertura democrática. O Treze Horas, porém, hoje, é tão necessário quanto possa ser a esperança em dias mais construtivos, mais harmônicos, menos facciosos.

Por outro lado, talvez seja mais provável que isso tenha acontecido a partir da personalidade visionária do Clayton, que construiu essa trajetória e a característica essencial do programa de rádio mais famoso de Pelotas: a desacomodação. Dito de outra forma, a capacidade de se relacionar com o seu tempo, de se fazer atual e de suscitar, por sua própria existência, a polêmica.

No momento em que se comemoram os quarenta anos do Treze Horas, quero expressar o agradecimento da cidade a um programa que hoje já é tido como um de nossos patrimônios, cujo formato nos conduz, conscientes ou não, à reflexão e à tão necessária elaboração livre do pensamento crítico.

*Paula Schild Mascarenhas é prefeita de Pelotas
Setembro de 2019