ARTIGO – ESTAMOS DEFINHANDO?

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ESTAMOS DEFINHANDO?

Paulo Gastal Neto*

Fui procurar ‘na rede’ a explicação para este sentimento de desesperança que toma conta de algumas pessoas, pelo que tenho ouvido de muitas com quem converso ou troco uma ideia nesses tempos de pandemia interminável e com tantos equívocos. Muitas relatam uma sensação de falta de perspectiva, de entusiasmo e de vontades. A melhor definição que encontrei está em um artigo, que foi publicado originalmente no New York Times, por Adam Grant, Psicólogo Organizacional da Universidade de Wharton, Pensilvânia, EUA. Este pequeno tratado explicativo está à disposição dos brasileiros na Folha de São Paulo do último dia 21 de abril e procuro neste pequeno espaço explicar os motivos dessas angústias e ansiedades, baseado nas teses de Grant.

Ele escreve que percebeu nos amigos os sintomas que eles tinham em comum: ‘diziam que estavam tendo dificuldade para se concentrar. Colegas relatavam que mesmo com as vacinas à vista eles não estavam entusiasmados com 2021. Uma parente ficava acordada até tarde para assistir a um programa de TV novamente, apesar de já conhece-lo de cor, enfim um sentimento de eterna mesmice, mas que não chegava a ser um esgotamento’ relata Adam Grant. E segue: ‘não se tratava de esgotamento, pois todos tinham energia. Não era depressão e não se sentiam impotentes. Apenas nos sentíamos um pouco sem alegria e sem objetivo. Grant descobriu que havia um nome para isso: definhamento’. O termo “definhamento” foi cunhado por um sociólogo chamado Corey Keyes, que ficou impressionado pelo fato de muitas pessoas que não estavam deprimidas também não estarem prosperando. Sua pesquisa sugere que as pessoas com maior probabilidade de experimentar grande depressão e transtornos de ansiedade na próxima década não são aquelas que têm esses sintomas hoje. São as pessoas que estão definhando neste momento.

O artigo relata que começamos a viver um sentimento de estagnação e vazio. Parece que você está se arrastando pelos dias, vendo sua vida através de uma janela embaçada. E que esta poderá ser a emoção predominante em 2021. E continua: Enquanto cientistas e médicos trabalham para tratar e curar os sintomas físicos da Covid persistente, muitas pessoas estão lutando com a persistência emocional da pandemia. Ela pegou alguns de nós despreparados, quando o medo e a dor intensos do ano passado se dissiparam.

Cientificamente, o profissional de saúde mental explica que “nos primeiros dias incertos da pandemia, é provável que o sistema de detecção de ameaças do seu cérebro — chamado amígdala — estivesse em alerta máximo para lutar ou fugir. Conforme você aprendeu que as máscaras ajudavam a nos proteger — mas esfregar embalagens não —, provavelmente desenvolveu rotinas que reduziram sua sensação de temor. Mas a pandemia se arrastou, e o estado agudo de angústia deu lugar a uma condição de abatimento crônico”, relata Grant.

O DEFINHAMENTO

Segundo o texto, publicado na Folha de São Paulo, “na psicologia, pensamos em saúde mental em um espectro que vai da depressão ao florescimento. O florescimento é o apogeu do bem-estar: você tem um forte sentido de significado, domínio e importância para os outros. A depressão é o vale do mal-estar: você se sente pesado, esgotado e inútil. O definhamento é o estado médio negligenciado da saúde mental. É o vazio entre depressão e florescimento —a ausência de bem-estar”.

Você não tem sintomas de doença mental, mas também não está num quadro de saúde mental. Você não funciona com plena capacidade. O definhamento embota sua motivação, perturba sua capacidade de se concentrar e triplica a probabilidade de você regredir no trabalho. Ele parece ser mais comum que a depressão completa — e, de certas maneiras, pode ser um maior fator de risco para a doença mental.

Parte do perigo é que quando você está definhando pode não perceber o embaçamento do prazer ou a diminuição do impulso. Você não se pega escorregando lentamente para a solidão; você é indiferente à própria indiferença. Quando alguém não pode ver o próprio sofrimento, não busca ajuda ou faz alguma coisa para se ajudar. Mesmo que você não esteja definhando, provavelmente conhece pessoas que estão. Compreender melhor isso pode ajudar você a ajudá-las. É uma boa dica para leitura e para que as pessoas que estejam com esse sentimento se descubram e busquem algum tipo de apoio. Fica aqui a dica.

*Radialista e editor do site www.pelotas13horas.com.br