ARTIGO – O BERIA TUPINIQUIM

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Lavrenti Beria, o chefe da polícia secreta do regime stalinista.

O BERIA TUPINIQUIM

Paulo Gastal Nero*

Segue o esforço imensurável para tornar o Brasil, realmente numa república de bananas. Agora a notícia é que foi criada a polícia secreta das eleições, coordenada pela chefia do TSE. A fisionomia do líder, agora também da KGB tupiniquim, é até semelhante ao temido Lavrenti Beria, o autoritário executor dos expurgos stalisnistas na década de 30 na União Soviética. O modo de agir demonstra até certa semelhança.

A polícia secreta – NKVD – antecessora da KGB, foi justamente criada para espionar oficiais, intelectuais, jornalistas, ‘inimigos do regime’ soviético. É bom lembrar que na época não havia ainda telefone celular, mas os bilhetes e cartas, telefonemas e publicações eram interceptados e censurados a todo instante e se não estivessem de agrado de Beria, o caminho era a prisão sem julgamento. Assim como está acontecendo hoje no Brasil e sendo prometido, através de ameaças detalhadas, para o dia 2 de outubro, pelos integrantes do TSE, liderados pelo Beria tupiniquim.

A festa democrática será substituída por um dia de medo, reações inesperadas, rostos tristes e carrancudos, eleitores sendo ameaçados e revistados na seções eleitorais, assim como na União Soviética de Stalin. E agora, mais ainda, com a criação da ‘polícia secreta’ do judiciário – foi publicada no Diário de Justiça Eletrônico, por meio de uma resolução criada pelo tribunal – as demonstrações de autoritarismo serão ainda mais hostis. A ação do Beria tupiniquim passa por cima da ABIN – Agência Brasileira de Inteligência.

Seria tudo isso cômico, se não fosse trágico e consequentemente triste. O caminho para o obscurantismo e o totalitarismo que estamos trilhando com a conivência da Câmara dos Deputados e do Senado está indo a galope. Assistimos passivamente a autocracia de um cidadão sobre seus conterrâneos, sem nenhuma cerimônia ou constrangimento. O Brasil ficou à mercê dos caprichos de um senhor apenas e a ele se rende, com dobradiça na espinha, um povo inteiro. A última vítima foi a classe empresarial.

Mas o que nos resta? Ter a esperança, pois o tempo anda para frente e a história se encarrega das mudanças e das alterações das deformidades causadas pelos tiranos. Em julho de 1953 Lavrenti Beria foi detido e processado por “atividades criminosas contra o partido e o Estado”. Condenado como traidor. Seu nome causava terror nas pessoas. O tempo e depois o estado – após os atos do líder da polícia secreta – baniu-o do convívio dos soviéticos em que pese o autoritarismo ainda tenha perdurado por um bom tempo na URSS. Mas a ação autocrática de apenas um elemento foi em seguida removida da linha de frente da nação e a vida prosseguiu. Aguardemos.

*Radialista e editor do www.pelotas13horas.com.br