Fracasso escolar – Parte II
Neiff Satte Alam*
“Seria preciso investigar a história de cada sistema escolar para descobrir o momento em que o fracasso escolar maciço dos filhos das classes populares tornou-se um problema social, um problema político no sentido amplo da organização da cidade, dos direitos e deveres dos cidadãos.” (Perrenoud, A Pedagogia na Escola das Diferenças, p.17)
Fecha-se mais um ano. As Escolas Públicas têm na sua conta um rosário de fracassos: os Professores insatisfeitos, mal pagos e desatendidos nas mínimas pretensões para que se constituam em profissionais respeitados; Escolas sucateadas ou simplesmente desprovidas de um mínimo de estrutura para atender as necessidades pedagógicas mínimas; carência de especialistas em educação como, Orientadores Educacionais, Supervisores Escolares e Psicopedagogos, sendo estas tarefas entregues aos professores com outras especialidades; Biblioteconomistas, Nutricionistas e outras especialidades paralelas que sequer existem nos fluxogramas administrativo-pedagógicos da maioria das Escolas.
Dezenas de livros, periódicos, trabalhos de conclusão de curso, monografias e teses tratam da questão do fracasso escolar, mas parece que o tema só interessa aos pesquisadores, pior, parece interessar aos governos que a Educação continue a acumular fracassos, desta forma a Escola Pública seguiria formando eleitores, trabalhadores para a indústria e comércio, preferencialmente. Mesmo quando há propostas de uma inclusão nas Escolas, a prática mostra que os procedimentos orientados por alguns órgãos públicos é de tal forma equivocado que, no lugar de inclusão, promove uma gama maior de exclusões.
A obrigatoriedade de vaga para crianças e jovens (até 14 anos de idade) não se constitui em uma solução ao problema do fracasso escolar, pois, mesmo saindo do Ensino Fundamental, um elevado número destes egressos mal sabe escrever seu nome, leem com dificuldade até mesmo as manchetes de jornais e as interpretam da forma direta como se apresentam, tornando-se reféns das interpretações fáceis e sem profundidade destas manchetes.
Como resolver o problema do fracasso escolar, então? O primeiro passo é reconhecer que existe e não mascará-lo com estatísticas comprometidas com a manutenção da situação; o passo seguinte é entregar ao profissional certo o trabalho de busca do melhor caminho para resolver a questão, isto é, o Professor e os demais especialistas em Educação; dar ao Professor condições dignas de vida pessoal e profissional. Tudo isto dentro de uma política pública de Estado, que possa perpassar pelos mais diferentes governos, feita pela base, pela comunidade, liderados pelos Professores que, afinal, são os que entendem de Educação, principalmente os professores da Educação Básica, pois estes têm, diferentemente da maioria dos Professores Universitários, a necessária formação pedagógica e compreensão real e prática dos motivos do fracasso escolar, uma realidade a enfrentar e não esconder embaixo dos tapetes palacianos, distantes e, muitas vezes, mais interessados em zerar contas, acobertar bancos, financiar multinacionais, isto é, dar às questões econômicas mais importância do que as questões educacionais, afinal, milhões de brasileiros jamais poderão ler este artigo, mas todos estes estarão, de alguma forma, contribuindo para o crescente PIB brasileiro…
*Professor e um dos criadores do Pelotas Treze Horas.