ARTIGO – DR RAFAEL CALDERIPE COSTA: SINAL DE LUZ NA ALA COVID

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DR. RAFAEL CALDERIPE COSTA: SINAL DE LUZ NA ALA COVID
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Sociedade Portuguesa de Beneficência
Por Clayton Rocha
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Nas Alas São Pedro, esta uma Ala Covid, e na São Vicente, para citar apenas estas duas, há um jovem médico que precisa consultar a sua agenda e limitar-se à conversa necessária com os seus pacientes. Ele atende pelo nome de Rafael Calderipe Costa, e é filho de um outro médico consagrado em Pelotas, o doutor Flávio Luiz Sieburger Costa.
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A Pandemia de Covid-19 duplicou o trabalho de Rafael, um profissional minucioso que quer saber sempre todos os detalhes possíveis quanto ao estado de saúde de seus pacientes. Ele faz anotações, repete perguntas, anuncia novos exames, e tem essa preocupação constante: a de acalmar o paciente, mostrando-lhe até mesmo os pequenos detalhes de evoluções favoráveis no quadro de saúde.
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Fui paciente de Rafael Calderipe Costa na Sociedade Portuguesa de Beneficência entre 12 e 28 de fevereiro de 2021: com um faro jornalístico que jamais se deixou abalar, o meu, e que procurou vencer a monotonia daquele isolamento todo, esforcei-me para poder testemunhar, através das portas sempre muito abertas de uma Ala Covid, os mais diferentes sinais de sofrimento humano atingindo várias faixas etárias, assim como as reações imediatas das pessoas, da calmaria absoluta até às raras demonstrações de indignação e de medo.
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Mas foi diante da imagem muito próxima de duas senhoras, estas na faixa de 85 anos, ambas com problemas psiquiátricos, mal de Alzheimer e avançado quadro de Covid19, que também observei a paciência de um jovem médico diante de um cenário devastador, e buscando no detalhe, na sua competência profissional mas também na esperança, repassar não apenas a medicação, mas uma palavra necessária aos que já emitiam sinais reveladores de fim de jornada.
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Ao Doutor Rafael Calderipe Costa prometi um texto que retratará essa imagem dolorosa aqui relatada, tendo como objetivo, e mesmo que possa parecer cruel, atingir o coração e a consciência de familiares – sejam eles próximos ou distantes – diante desta imagem perversa, qual seja, a de alguém ter que se despedir da vida, e na mais alta idade, em isolamento absoluto, sem ter de quem se despedir na hora derradeira.
Sei que esse título vai dar o que falar, mas já é uma tarefa determinada pela minha própria consciência: A DESIMPORTÂNCIA DAS PESSOAS NO LONGO PRAZO!
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Quando deixei o hospital, eu, a testemunha de tantos óbitos, saí dali concentrado em algumas lições de vida já atrasadas, mas sempre indispensáveis: – Não te conduzas como se fosses durar milhares de anos. Sobre ti paira o inevitável. Enquanto vives e podes, esforça-te para tornar-te homem de bem. E pratica cada um dos teus atos como se fosse o último da tua vida! E jamais esqueças, por soberbo e arrogante que sejas, que tudo em nós é mortal, menos os bens do espírito e da inteligência. (CR).