A FAIXA DE GAZA TROPICAL
Ivon Carrico, de Denver, EUA.
Sim! Nós temos a nossa Faixa de Gaza. São os cinturões de miséria, opressão e violência que circundam as grandes cidades brasileiras.
Onde o Estado se faz ausente e organizações criminosas assumem o controle e a prestação de serviços e, o mais grave, dispõem das vidas humanas.
Seria um exagero compará-las com o Hamas e o Hezbollah, porque – diferentemente – eles lá, também, lutam para sobreviver como povo. Tarefa, também, comum aos israelenses que precisam assegurar e defender suas terras.
Mas, tal como lá, a violência aqui perpetrada é assustadora. A vida é banalizada sem qualquer pudor.
A nossa injusta organização social, que condena milhões de brasileiros a experimentarem uma vida indigna, sem qualquer perspectiva, enseja – por sua vez – grave insatisfação popular.
Precisamos, cada vez mais, de políticas públicas para atender as inúmeras e justas demandas dos tantos segmentos sociais. Em especial, deste – acima referido – vítima dos sucessivos descasos governamentais e da aviltante violência alheia.
No plano geral, até que tivemos um hiato, quando das políticas de inclusão social. Foi um avanço que não pode ser ignorado e estancado.
Entretanto, o mesmo Estado que deveria ser o indutor dessas práticas tem se mostrado – há décadas – omisso e negligente. Basta ver, por exemplo, a questão da violência urbana que é assaz complexa e tem considerável componente social. Uma equação de difícil, mas não impossível resolução, que exige – todavia – muito discernimento. Como na Faixa de Gaza.
*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. Escreve de Denver, Colorado/USA: 24/10/23.