A misteriosa morte de Miguela de Alcazar chega ao Pelotas 13 h
Lourenço Cazarré*
A primeira publicação de A misteriosa morte de Miguela de Alcazar ocorreu em meados de 1991. Naquela época, um amigo de peladas de futebol de salão do Clube da Imprensa, Vicente Sá, poeta e jornalista da área de Cultura, me convidou para escrever um folhetim para o jornal BSB Brasília, um semanário de distribuição gratuita no Distrito Federal.
Acho que já tinha uns capítulos escritos, mas não tenho certeza disso. O certo é que me comprometi a partejar um capítulo de umas quinhentas palavras por semana. E foi o que fiz, metralhando de madrugada num computador pré-histórico que me custou uma boa grana.
O primeiro capítulo saiu em 28 de abril de 1991. Foram 21 semanas, sem pular uma só. No dia 15 de setembro apareceu o derradeiro. Tenho todos os fascículos nos meus arquivos implacáveis. Para mostrar aos inimigos, se a isso for desafiado.
Passaram-se uns dez anos e um dia falei a um amigo, Jorge Schelb, sobre esse folhetim. Ele se interessou, quis ler. Passei-lhe então uma cópia. Ele leu, ou mentiu para mim que leu, e me incentivou a recuperar aquela história, dando a ela mais gordura, mais espaço.
Foi assim que, em 2001, o livro começou a crescer. Trabalhei nele por alguns anos, espichando, retocando. Mas sempre me divertindo muito porque A Misteriosa morte de Miguela de Alcazar é, mais que tudo, um livro de humor. Ou dito de outra forma: é uma sátira aos romances policiais.
Confissão de leitor: durante décadas consumi literatura policialesca. Comecei com o belga Georges Simenon, em 1972, quando comprei, numa promoção da Livraria Mundial, dez volumes protagonizados pelo detetive Jules Maigret. Depois, li os americanos Raymond Chandler e Dashiel Hammet.
Voltando ao Miguela. Em 2009, com o apoio do Fundo de Cultura do Distrito Federal, o livro foi publicado pela editora Bertrand Brasil. Pelo que sei, não teve lá uma vendagem muito boa. Talvez até se possa dizer que foi muito ruim. Mas a verdade é que ele teve uma boa recepção por parte da crítica. Guardo cópias dessas resenhas positivas. Para mostrar aos inimigos, se isso eles me exigirem.
Pois bem, rolaram mais alguns anos e lá por 2017 conheci em Lisboa um escritor português, Pedro Almeida Vieira. Um dos principais romancistas do gênero histórico daquele país, no Século XXI, ele é autor de Assim se pariu o Brasil e de O profeta do castigo divino.
Falei então para o Pedro sobre A misteriosa morte, confessando que nunca ter ficado satisfeito com as frases que inventara para o personagem coadjuvante, o lusitano senhor Joaquim Manoel Batota.
Pedro Almeida Vieira aceitou então a missão de dar à dicção de Batota a parecença de uma fala realmente portuguesa. Mal comparando, o senhor Batota, gerente de um hotel de Brasília, é da mesma espécie de Watson, o auxiliar de Sherlock Holmes.
Já que falamos do ajudante, não custa nada dizer algumas palavras sobre o principal personagem do livro, Campestre de Campos Campelo, um jovem jornalista gaúcho recém-chegado ao Planalto Central. Anarquista e debochado, é ele quem narra a história toda, que transcorre durante um Seminário Internacional de Escritores Policiais, que teria sido realizado em Brasília no final dos anos 1970.
Os escritores que participam do Seminário são a russa Fedorova Smerdlova Dornascostasviskáia, a inglesa Águeda Christine, o belga Herculano Poire, o americano Dax Chamber, o argentino Jorge Luís Bugres e o chinês Foo Li Shi Man. A espanhola Miguela de Alcazar morre antes de entrar em cena.
Pois bem, este livro poderá agora ser lido no site do Pelotas 13 Horas – www.pelotas13horas.com.br . Como engordou para 66 capítulos, sairá em 20 postagens de 3 capítulos. Estou certo de que, na falta de coisa melhor para fazer, os conterrâneos passarão os olhos por essa história. Darão muitas risadinhas, isso eu garanto.
*Jornalista e escritor.