O ‘Memória do Treze Horas’ relembra hoje uma figura icônica de Pelotas: O escultor Antônio Caringi. Nascido em Pelotas, em 25 de maio de 1905, Caringi foi considerado o maior estatutário da história da arte no Rio Grande do Sul. Era filho de Antônio Caringi e Josephina Sicca. Fez os estudos primário e ginasial em Bagé e desde cedo mostrou aptidão para a arte. Em 1918, acompanhando a família, mudou-se para Porto Alegre, onde graduou-se em Ciências e Letras. Em 1923, começou a estudar Química Industrial na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, onde apenas cursou algumas disciplinas. Em 1925, participou e expôs seus trabalhos no Salão de Outono em Porto Alegre.
O Treze Horas, nos seus quase 42 anos de existência, sempre lembrou Caringi e sua obra, chegando a criar um movimento para a transferência do Sentinela Farroupilha (Obra de Caringi), nos 200 anos de Pelotas, da Praça 20 de Setembro para o Largo da Rodoviária. E pediu ao poder público a designação do nome de Caringi a uma avenida pelotense. É mais do que justo que o Memória do Treze Horas relembre esse pelotense ilustre que levou o nome de sua cidade ao mundo das artes.
O Memória do Treze Horas relembra hoje Antônio Caringi, em texto de Clayton Rocha:
ANTÔNIO CARINGI – Por Clayton Rocha
Ele nunca pediu nada à Cidade de Pelotas. Ele sempre ofereceu todo o seu talento à terra que tanto amou e na qual repousa para sempre. Suas obras são vitrines iluminadas aos olhos do Rio Grande e do Brasil! Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck, em suas presidências, frequentavam o seu ateliê no Rio de Janeiro. Deixou registrado no bronze o seu inconfundível brilho de notável escultor. Mas Pelotas, e a frase é de Mozart Víctor Russomano, esqueceu-se dele. Não foi nem capaz de dar visibilidade pública ao seu Sentinela Farroupilha, hoje escondido entre arbustos.
Foi esquecido pelo poder legislativo quanto à ideia de dar nome a uma grande avenida. Passou batido diante de todas as ingratidões possíveis e imagináveis. Hoje nada mais se pede em honras em benefício de seu nome, até mesmo porque qualquer pedido que se venha a fazer confunde-se com perda de tempo. Quase às vésperas dos 208 anos de Pelotas, constata-se: Antônio Caringi é consenso junto ao povo quanto à extensão extraordinária de seu legado. Ele veio para ficar junto às almas sensíveis e capazes de demonstrar sinais permanentes de gratidão, essa que é a admirável memória do coração. O resto não importa. Ele não precisa de mais nada. E que os detentores da caneta que tudo pode nada mais façam, Antônio Caringi não precisa mais de nenhum deles. Ao pelotense eminente, celebrado em todo o país, bastará essa alcunha eterna, vinda das energias do povo, a de Escultor do Rio Grande! (CR, 24 de maio de 2020).
CRONOLOGIA
EUROPA
Em 1928 Caringi embarcou para a Europa para assumir o cargo de Adido Cultural no Consulado Brasileiro em Munique, Alemanha e estudar Arte na Academia de Belas Artes. Lá, teve aulas com os escultores Hermann Hahn e Hans Stangl. Como Adido Consular, ainda exerceu cargos diplomáticos em vários países europeus. Em 1934, voltou ao Brasil para concorrer – e, consequentemente, vencer – o concurso para a estátua equestre do General Bento Gonçalves, inaugurada em Porto Alegre, em 1935, na comemoração do centenário da Revolução Farroupilha. Retornou à Europa em 1936, indo para Berlim, onde especializou-se em Plástica Monumental com Arno Brecker. Com os estudos concluídos na Alemanha, mudou-se para Roma. Empreendeu, nessa época, diversas viagens, sempre a estudos, visitando países como Dinamarca, Suécia, França e balcânicos, detendo-se em Estudos Clássicos na Itália, na Grécia e Turquia.
RETORNO AO BRASIL
Em 1940, durante a II Guerra Mundial, Antônio Caringi decidiu voltar definitivamente ao Brasil, residindo em Porto Alegre. A partir de então, esculpiu vários monumentos significativos para o Patrimônio Artístico do Rio Grande do Sul. Em 1942, fixou residência em Pelotas, sua cidade natal, e casou-se com a poetisa pelotense Noemi Assumpção Osório, com quem teve seis filhos: Fernanda, Antônia, Leonardo, Ângela, Glória e Rita. Lecionou, de 1952 a 1980, a disciplina de Escultura na Escola de Belas Artes de Pelotas, atual Instituto de Letras e Artes da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL. Seu último trabalho ao ar livre, inaugurado em 1977, foi uma homenagem a Raul Pilla. Cabe destacar que a maioria das obras de grande porte foi consagrada através da participação em concursos, sendo vencedor de onze concursos no Brasil. Conhecido como o “escultor dos pampas”, Caringi privilegiou temas regionais em seus trabalhos, ligados à história e à cultura riograndenses.
PREMIAÇÕES
Caringi costumava afirmar que a escultura não dava reconhecimento ao artista. Entretanto, contrariando a regra, recebeu, ainda em vida, inúmeras medalhas, condecorações e prêmios, tais como:
- o Primeiro Grande Prêmio de Escultura da Sociedade Felipe de Oliveira, no Rio de Janeiro, em 1933, quando ainda residia na Europa;
- a Menção Honrosa da Academia de Belas Artes de Munique, em 1934;
- a Medalha de Ouro e Prata do Salão de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1938;
- a Grande Medalha de Ouro no II Salão do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, em 1940;
- a Medalha Mérito Tamandaré;
- a Medalha Simões Lopes Neto, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, em 1977;
- o Troféu Pelotas Desenvolvimento Integral, da Prefeitura Municipal de Pelotas;
- e a Medalha do Mérito Universitário, por ocasião da sua aposentadoria como Professor de Escultura do Instituto de Letras e Artes da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, em 1980.
OBRAS
- Monumento ao General Bento Gonçalves, de 1935, instalado inicialmente no Parque Farroupilha e posteriormente transferido para a Avenida João Pessoa, ao lado da Praça Piratini, em Porto Alegre;
- Monumento em homenagem ao “Sentinela da Pátria” (mais conhecido como “Sentinela Farroupilha” ou “O Bombeador” – no linguajar gaúcho, deriva de bombear, que significa “vigiar”), de 1935, na Praça Vinte de Setembro, em Pelotas;
- Monumento funerário ao Doutor Maurício Cardoso, de 1940, no cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre;
- Busto de Velha Camponesa Bávara, de 1940, na Pinacoteca APLUB, em Porto Alegre;
- Monumento conhecido como “o soldado e o gaúcho”, de 1941, no túmulo do General Daltro Silva, localizado no cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre;
- Monumento ao Bispo Dom Joaquim Ferreira de Mello, de 1942, instalado inicialmente no Parque Dom Antônio Zattera e posteriormente transferido para a Avenida Dom Joaquim, em Pelotas;
- Grupo funerário “Oferenda”, de 1942, no túmulo de seus pais – falecidos naquele ano – e do próprio escultor e sua mulher – ele, sepultado em 1981, e ela, em 1993;
- Herma do Doutor Augusto Duprat, de 1943, na Praça Xavier Ferreira, em Rio Grande;
- Cabeça de Índio Charrua, de 1944, na Pinacoteca APLUB, em Porto Alegre;
- Monumento ao Almirante Sandanha da Gama, de 1946, na Praça Almirante Saldanha da Gama, no Rio de Janeiro;
- Monumento a J.J. Seabra, de 1948, na Praça da Inglaterra, em Salvador-BA;
- Três Idades do Trabalho, de 1953, relevo em bronze pertencente ao monumento ao Coronel Pedro Osório e se desenvolve de modo contínuo ao longo da base cônica de granito. Mede 1 metro de altura e 5 metros de comprimento. A alegoria se refere às atividades socioeconômicas do homenageado, passando pela pecuária, orizicultura, indústria e comércio;
- Monumento Nacional ao Imigrante de 1954, em Caxias do Sul, mediante concurso público. Abaixo das esculturas foi construída uma cripta que abriga o Espaço Cultural Antônio Caringi, dando lugar a exposições temáticas temporárias;
- Monumento ao Coronel Pedro Osório, de 1954, na Praça Coronel Pedro Osório, em Pelotas;
- Herma do Tenente Coronel Comendador Manoel Corrêa Mirapalhete, de 1955, na Praça General Andréa, em Santa Vitória do Palmar, em homenagem ao centenário do município e ao seu fundador;
- Herma de Getúlio Vargas, de 1955, na Praça Xavier Ferreira, em Rio Grande. Bustos como este, todos datados de 1955, foram instalados em Bagé, Canguçu, Jaguarão, Passo Fundo, no átrio do Palácio Piratini e no átrio da Prefeitura de Porto Alegre;
- Monumento ao Expedicionário de 1957, no Parque Farroupilha, em frente ao Colégio Militar de Porto Alegre, mediante concurso público;
- Estátua do Laçador, de 1958, um dos símbolos de Porto Alegre, mediante concurso público. Serviu-lhe de modelo o folclorista Paixão Côrtes. É a obra que lhe deu maior reconhecimento. Na instalação original, na Praça do Bombeiro, na entrada de Porto Alegre, pela BR-116, o monumento de 4,45 metros e 3,8 toneladas ficou durante 49 anos. Em 2007, foi transferido para o Sítio do Laçador, em frente ao antigo terminal do Aeroporto Salgado Filho;
- Monumento ao Colono, de 1958, na Praça Primeiro de Maio (conhecida como Praça do Colono), em Pelotas. Almiro Buss, então subprefeito distrital e posteriormente vereador de Pelotas e prefeito em Arroio do Padre, teria servido de modelo ao escultor;
- Herma de André Puente, de 1958, na Praça da Matriz, em Porto Alegre;
- Herma do Padre Agostinho Scholl, de 1958, em frente à Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Medianeira, no Círculo Operário Pelotense;
- Herma do Doutor Luiz Pereira Lima, de 1958, na Praça Piratinino de Almeida, em Pelotas;
- Herma de Alberto Bins, de 1959, no Parque Farroupilha, em Porto Alegre;
- Monumento às Mães, de 1959, na Praça Coronel Pedro Osório, em Pelotas. A obra tem a imagem da mulher de Caringi, a poetisa Noemi de Assumpção Osório;
- Banhista, de 1960, no Museu de Arte do RS, em Porto Alegre;
- Herma de Fernando Chagas Riet, de 1961, na Secretaria da Agricultura, em Porto Alegre;
- Herma de João Batista Fico, de 1962, na Praça Gaspar Silveira Martins, em Bagé;
- Herma de Alcides Maia, de 1963, na Praça General Daltro Filho, em Porto Alegre;
- Monumento às Mães, de 1963, na Praça Getúlio Vargas, em Alegrete;
- Monumento à Anita Garibaldi, de 1964, em frente ao Museu Anita Garibaldi, em Laguna-SC, mediante concurso público;
- Monumento ao Doutor José Brusque, médico-cirurgião, de 1968, na Praça Coronel Pedro Osório, em Pelotas;
- Monumento a Gaspar Silveira Martins, de 1969, na Praça Silveira Martins, em Bagé;
- Cabeça de Assis Chateaubriand, de 1969, na TVE, em Porto Alegre;
- Monumento a Loureiro da Silva, de 1974, atualmente instalado em frente à sede da Câmara Municipal de Porto Alegre, em área de recuo na Avenida Loureiro da Silva;
- Herma de Oswaldo Vergara, de 1974, na Praça da Matriz, em Porto Alegre;
- “O Cristo Crucificado” – sua penúltima obra, de 1976, está exposta na Capela dos Jesuítas, em Porto Alegre;
- Herma de Raul Pilla – seu último trabalho ao ar livre, de 1977, instalado na Praça Raul Pilla, em Porto Alegre. Infelizmente, o busto em bronze foi furtado.
MORTE
Antônio Caringo morreu aos 76 anos em 30 de maio de 1981 na cidade de Pelotas.
Fontes: Wikipedia – Fotos: Acervo de família – Texto de Clayton Rocha