CRISE NO HE UFPel: RESIDENTES DE PEDIATRIA DO HE UFPEL PARALISAM ATIVIDADES

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Médicos do programa de residência médica em Pediatria do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE UFPel), comunicaram a paralisação de suas atividades em solidariedade aos residentes de Ginecologia e Obstetrícia. Foto: Reprodução/RBS TV

Médicos do programa de residência médica em Pediatria do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE UFPel), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), emitiram, no sábado (18), nota comunicando a paralisação de suas atividades em solidariedade aos residentes de Ginecologia e Obstetrícia.

O comunicado foi voltado aos gestores da instituição, poder público e demais órgãos envolvidos e corresponde ao anúncio feito pelo hospital na última sexta-feira (17), data em que o HE comunicou a transferência do pronto-atendimento obstétrico para outro prestador.

Conforme a nota, os residentes da pediatria compreendem ser prejudicial para o programa médico a transferência do atendimento. “Tais circunstâncias impactam diretamente na formação dos médicos residentes em pediatria e ginecologia e obstetrícia, pois como já elucidado em comunicados anteriores publicados por alunos de outras PRM, a Residência Médica é o curso de pós-graduação que o médico formado realiza atividades com objetivo de adquirir uma especialidade específica, e assim como é fundamental ao residente de Ginecologia e Obstetrícia que em seu programa exista atendimento à gestantes de Alto Risco e de atendimento de consultas em Pronto Atendimento”, comentam.

O posicionamento, emitido no sábado (18), informa que a paralisação teria início a partir da data de divulgação. “Tendo em vista a obtenção de melhorias, transparência e diálogo por parte da gestão hospitalar, e em solidariedade aos residentes do PRM em Ginecologia e Obstetrícia, comunicamos que iniciaremos paralisação a partir do momento de publicação desta carta”, escrevem.

Leia a nota na íntegra

Carta aberta à gestão municipal de saúde, gestores do HEUFPEL, COREME, CNRM e aos cidadãos Pelotenses

Os residentes do programa de residência médica (PRM) em Pediatria do HEUFPEL vem por meio desta expressar nossa preocupação com os recentes acontecimentos e medidas a serem tomadas pela direção e administração do Hospital Escola da UFPEL em relação à incapacidade do preenchimento do quadro de anestesistas para adequado funcionamento da unidade de saúde por parte do grupo de gestão hospitalar. Tais acontecimentos perduram há meses e sem resoluções congruentes a vista, culminando no fechamento/descredenciamento dos PRMs em anestesiologia e cirurgia geral. Nos recentes

comunicados e notas oficiais as propostas anunciadas foram de transferência de pronto atendimento obstétrico para outra instituição, com a premissa de que não haverá diminuição de leitos obstétricos ou partos realizados na instituição. Tal premissa constitui visão deveras otimista, pois ao analisar os indicadores hospitalares disponibilizados pela própria instituição em seu portal de transparência verificamos que nos anos de 2021 e 2022 os partos prematuros e de alto risco (formados por recém nascidos com menos de 37 semanas de idade gestacional) representaram em média 20% dos nascimentos da instituição, e neste mesmo período houve uma taxa de 54,95% e 51,05%, respectivamente, de nascimentos por via cirúrgica, compondo mais da metade dos nascimentos nos últimos 2 anos, sendo portanto fantasiosa a percepção de manutenção do número de partos na atual situação e na solução ofertada. Tais circunstâncias impactam diretamente na formação dos médicos residentes em pediatria e ginecologia e obstetrícia, pois como já elucidado em comunicados anteriores publicados por alunos de outras PRM, a Residência Médica é o curso de pós-graduação que o médico formado realiza atividades com objetivo de adquirir uma especialidade específica, e assim como é fundamental ao residente de Ginecologia e Obstetrícia que em seu programa exista atendimento à gestantes de Alto Risco e de atendimento de consultas em Pronto Atendimento, também é imprescindível ao residente de Pediatria o atendimento a recém nascidos de alto risco.

Tais medidas anunciadas também são de grande importância para a população da cidade de Pelotas, pois correlacionando dados dos índices hospitalares com os registros de nascimentos do município, o HEUFPEL correspondeu a 31,4 e 32,4% dos atendimentos ao nativivos da cidade em 2021 e 2022, nesta ordem, implicando que o fechamento ou tentativa de transferência dessas atividades traria grandes prejuízos ao atendimento em saúde da mulher e da criança, ao ensino nos programas de residência médica e graduação em medicina, e aos demais serviços da cidade com o grande fluxo assistência! a ser absorvido pelas medidas.

Tendo em vista a obtenção de melhorias, transparência e diálogo por parte da gestão hospitalar, e em solidariedade aos residentes do PRM em Ginecologia e Obstetrícia, comunicamos que iniciaremos paralisação a partir do momento de publicação desta carta.

Atenciosamente,

Médicos(as) residentes do PRM de Pediatria da UFPEL/RS

Pelotas, 18 de Fevereiro de 2023