OS CINCO “C”(s) DA FELICIDADE
Dom Jacinto Bergmann*
Partamos da base de que a felicidade é o sentido profundo da vida humana. Deus, princípio e fim de toda a felicidade, nos cria para sermos felizes. Tudo o que somos e fazemos nas nossas vidas orienta-se para tentar encontrar isso que chamamos felicidade e estar em sintonia com toda a criação – a “Casa Comum” (Papa Francisco).
Mas, claro, é impossível alcançar a felicidade sem aprender a enfrentar e resolver os problemas, a abraçar a cruz do dia-a-dia. A felicidade como nos mostra o Mestre de Nazaré, no seu Evangelho, não é algo abstrato e sem cruz, mas algo que se alcança num processo de tensões. Para ele “felicidade” não é sinônimo de “facilidade”. Não é possível ser feliz se não se é capaz de reconhecer a cruz e viver nas tensões que ela gera. Se associo a felicidade à ausência de cruz nunca serei feliz. Também não conseguirei ser feliz se somente me prendo masoquistamente na cruz. É preciso saber incorporar as tensões da cruz como redentoras e oportunidades ímpares de crescimento.
A felicidade pessoal está intimamente ligada à felicidade da comunidade mais ampla. Não se pode ser feliz em isolamento. O individualismo enfrenta a concepção cristã de vida. A mensagem de felicidade do Evangelho não é individualista, ela o supera quando lhe propõe: saia de si próprio, relacione-se com amor com os outros seres humanos, com a criação toda e com o próprio Criador. Do individualismo é fácil resvalar para o egoísmo, que é contrário do amor e decreta a infelicidade.
A felicidade, assim concebida, produz pessoas dotadas de cinco “C”(s): de consciência, de competência, de compaixão, de compromisso e de coerência.
Pessoas felizes de consciência: pois reconhecemos a nós mesmos e a realidade que nos circunda; convertemo-nos em pessoas livres, não manipuláveis, mas capazes de tomar decisões fundamentais.
Pessoas felizes de competência: pois fazemos jus de sermos “imagem e semelhança de Deus”, possuídas de sabedoria e dignidade; convertemo-nos em pessoas situadas na criação, não apequenadas, mas capazes de qualificar a história humana.
Pessoas felizes de compaixão: pois nos tornamos compadecidos com a humanidade, sua realidade e história; convertemo-nos em pessoas sensíveis, não indiferentes, capazes de viver toda a existência com sentido maior que é o amor.
Pessoas felizes de compromisso: pois sonhamos e trabalhamos pela transformação da realidade; convertemo-nos em pessoas decididas, não considerando-nos super-heróis, mas capazes de melhorar tudo para todos.
Pessoas felizes de coerência: pois harmonizamos em nós e nos outros os quatro “C”(s) anteriores – consciência, competência, compaixão e compromisso; convertemo-nos em pessoas transparentes, não envoltas hipocritamente em caminhos escusos, mas capazes de discernir continuamente à vontade plenificante do Criador.
Felicidade não é sinônimo de “facilidade”!
*Arcebispo Metropolitano de Pelotas