ARTIGO – UM VÍRUS PODE ESTAR ABRINDO UM NOVO HORIZONTE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.

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Professor Neiff Olavo Gomes Satte Alam é integrante da Equipe Treze Horas há 44 anos, desde a fundação do programa.

Um vírus pode estar abrindo um novo horizonte na educação brasileira.

Neiff Satte Alam*

O colapso previsível na área da saúde em razão desta pandemia do novo Corona vírus, abriu uma importante porta para discussão do colapso na Educação brasileira, também previsível, pois há muito vem se discutindo a incapacidade dos Governos brasileiros em enfrentar estes novos tempos, onde a educação tornou-se refém das tecnologias de informação e comunicação.

As novas tecnologias, que deveriam, há muito, serem periféricos dos sistemas educacionais e das metodologias a serem aplicadas em sala de aula e de forma remota, constituindo-se em um híbrido de Ensino Semipresencial, terminaram por conflitar com estas metodologias, lamentavelmente.

Há causas bem claras: desde a Educação Básica até o Ensino Superior, percebe-se uma linearidade que vai desde os conceitos à incapacidade de construção de competências; um descaso na utilização de uma pedagogia que leve os estudantes a uma prática reflexiva, que lhes de uma pertinente visão de alternativas na elaboração de novos conhecimentos; um descuido evidente em uma formação continuada dos professores para que possam dominar estas novas tecnologias e transpor a barreira de simples ofício de suas práticas pedagógicas para serem profissionais da educação.

Poderia ampliar estas causas com a que talvez seja a mais importante: a necessária e urgente revolução na forma de pensar – passando de um pensamento linear para um pensamento não linear. Talvez a mais difícil barreira a ser superada, pois a linearidade vem sendo a forma de pensar que nos trouxe até aqui, mas precisa dar lugar a não linearidade para que alcancemos, com sucesso, os novos tempos.

Exatamente em meio a estas dificuldades todas no campo da educação, surge uma pandemia que desestrutura todo um planejamento educacional nacional. Professores e alunos são extraídos compulsoriamente das salas de aula, afastam-se todos, são confinados em suas casas, mas a aprendizagem tem que continuar, então, parte-se para uma metodologia ainda estranha, mas com tecnologia bem conhecida e que permite desenvolver tarefas de ensino-aprendizagem com alguma segurança, desde que se esteja preparado para tal, principalmente que já se tenha uma formação intelectual não linear latente, que ocorre com a maioria dos nossos Professores, só que muitos ainda não descobriram.

O terror dos celulares em sala de aula, em que os alunos disputam informações pelas redes sociais, passa a ser solução, desde que todos disponham de aparelhos compatíveis com as necessidades de ensino e que possam utilizar a Internet.

É nestes momentos de crise que cresce a capacidade criativa dos profissionais da educação e, com ela, uma forma de amenizar ao problema de saúde pública – a pandemia, e reduzir as graves consequências à continuidade de um ano letivo.

Agora, mesmo que tardiamente, é que podemos perceber se houve ou não políticas públicas de Educação; se o prometido sobre os destinos de uma Educação com qualidade foi entregue; se os egressos da Educação Básica chegaram à Universidade em condições de serem bons profissionais e, principalmente, se estamos aptos a utilizar estas tecnologias que permitem um Ensino a Distância ou remoto, como preferem alguns.

Esta tempestade que assolou o Planeta somente será sucedida pela bonança, no caso de entendermos o quanto uma população que tenha tido uma  boa Educação Básica e Superior poderia ter resistido melhor e com menor sofrimento, pois é, das salas de aula do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, que serão formados Médicos, Enfermeiros, Dentistas e outros tantos profissionais da Saúde e os Políticos que tratarão de todas as políticas públicas de Estado, com a qualidade que se exige de um País que quer crescer e garantir uma Cidadania de qualidade e extensiva a todo o povo brasileiro. Também teremos sucesso se nos apropriarmos das Tecnologias de Informação e Comunicação, utilizando uma forma de pensar não linear, em rede, não determinista e complexa.

*Professor e integrante da Equipe Treze Horas há 44 anos.