ARTIGO – TREZE HORAS 40 ANOS

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TREZE 40 ANOS – Irajá Andara Rodrigues *

Desde a época em que fui prefeito pela primeira vez tenho o hábito de participar do 13 horas. Já são decorridos quarenta anos e nenhuma das duas coisas me desiludiu. As transformações que fizemos na cidade e no interior. Quantos mutirões e que alegria nas inaugurações. Que coisa boa é olharmos ainda hoje o que construímos e vermos as nossas avenidas em concreto cimento, quase todas em perfeitas condições de uso. E a Rodoviária e o Calçadão e a Baronesa e o 7 de abril, que apesar de terem deixado chover dentro dele depois de restaurado, não se transformou num edifício feio e apenas uma lembrança bonita, mas está de pé e é nosso porque o desapropriamos. Que bom termos feito as primeiras creches.

Que bom vermos a equipe do 13, operando todos os dias, quase sem necessitar de manutenção também, exceto pelo excesso de produção de pedras na pedreira viva do Clayton e sua extração, como convém a todas as boas pedreiras. É bom ir ao programa e ver em cima da mesa de debates a presença do Tancredo: uma das grandes esperanças perdidas do povo brasileiro. Vejo-o ainda na sala do apartamento funcional, com um sorriso deste tamanho, pedindo à Daisy que servisse mais um pouco de bacalhau à Gomes de Sá e “mais um copo daquele vinho branco gaúcho que estava tão bom.”

Aquele almoço apareceu no livro “O complô que elegeu Tancredo”, escrito a várias mãos por jornalistas de Brasília. Ele foi a consagração do trabalho, tecido com paciência por um grupo de gente de todas as tendências, desde o Partidão até ex-integrantes da Arena, que construíram o “Pró-Partido”, um conjunto de pessoas que pensava o MDB como ele devia ser.

O Guazelli e eu, só nós dois gaúchos, no meio de baianos como o Fernandão Santana, um comunista “hors concours” como ele adorava dizer, pernambucanos como o Roberto Freire, o Valmórbida e o De Luca de Santa Catarina, um maranhense, o Cid Carvalho. Todos unidos em um pensamento só: não deixarmos o pessoal do Travessia, do Ulisses, brigar com a turma do Unidade, do Tancredo e, mais do que isso, fazermos com que ninguém esquecesse que o grande objetivo era a transição da ditadura para a democracia.

E naquele meio-dia entraram o Clayton e o 13 horas, querendo trazer para Pelotas a palavra do futuro presidente da República, Tancredo de Almeida Neves.  Afinal o Tancredo já tinha comido até demais. Nada melhor do que um intervalo para falar de política e de vida .

Tancredo não se fez de rogado e conversou com o 13 nem sei por quanto tempo. Aquele tempo foi a eternidade. Nunca voltei a ver o sorriso que hoje se encontra eternizado na mesa do 13. Talvez tenha sido uma das suas últimas alegrias plenas. Afinal ficara acertado que o Ulisses presidiria a Constituinte e ele seria o próximo presidente do Brasil.

E o Pelotas Treze horas esteve presente. O Clayton de um lado e o Tancredo do outro. Um morreria pouco depois, ante as lágrimas e a desilusão de todo um povo cansado de sofrer mas que, estava escrito, sofreria mais e muitas vezes.  Mas o 13 continuaria por muitos e muitos anos a incomodar satisfatoriamente a todos nós. Um incômodo gostoso, que às vezes revira as entranhas da gente, quando o Clayton, o Paulo, o Vaz ficam filosofando e, como fazia o Freitas, lembrando, e lembrando e cutucando e tirando a gente da letargia da “alcalose pós-prandial” como gosta de dizer o Michel . Aqui a opinião é livre e o debate assegurado. E vai continuar para sempre, apesar de termos nos abandonado, como diria o Deogar.

*Irajá Rodrigues foi duas vezes prefeito de Pelotas e Deputado Federal;