ARTIGO – TERRA EM TRANSE

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Cena do filme Terra em Transe, que em 1967, em pleno Regime Militar, no Brasil, o consagrado cineasta baiano Glauber Rocha dirigiu. Foto: Internet

TERRA EM TRANSE

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Ivon Carrico*
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Em 1967, em pleno Regime Militar, no Brasil, o consagrado cineasta baiano Glauber Rocha dirigiu o filme ‘Terra em Transe’, o qual – em face das circunstâncias, experimentadas naquele momento – teve grande repercussão.
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Como descreve a Historiadora Cecília Matos, da UFRJ, o filme fala sobre a estratégia de legitimar golpes de Estado, sob a alegação da necessidade de retomada de valores como a honestidade associada à família, a Deus e ao trabalho.
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Decorridos quase 60 anos – contudo – estamos assistindo um verdadeiro ‘revival’ daqueles longínquos tempos. Em toda a América Latina
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Aqui, em Pindorama, tivemos o infame 08 de janeiro e – ainda – o bizarro, mas não ilegal pernoite de um ex-Presidente em uma Representação Diplomática. E, o mais esdrúxulo: a interpelação judicial para explicações…
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Por sua vez, na Argentina, tivemos a insólita manifestação do Presidente Milei  classificando o Presidente Gustavo Petro, da Colômbia, como um notório terrorista assassino e, a comédia  do Ditador Nicolás Maduro, da Venezuela, ensaiando a anexação de ⅔ do território da Guiana.
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Sendo pouco, tivemos a vergonhosa invasão da Embaixada mexicana, no Equador, protagonizada pelo Presidente Daniel Noboa, para prender um ex-Vice Presidente Equatoriano condenado por corrupção.
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Como se vê ‘Terra em Transe’ é muito atual, pois – como disse a citada Historiadora – fala sobre um tempo que insiste em retornar. Difícil acreditar que, após a queda do Muro de Berlim, em 1989, tenhamos – ainda – essa exacerbada polarização ideológica.
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A  (re)tomada e a perpetuação ilegítimas do Poder são – ainda – muito presentes em nossa América Latina.
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*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. Brasília: 09/04/2024