POSSE BREGA
Paulo Gastal Neto*
Um dos episódios mais constrangedores da história recente da República aconteceu às vésperas dos 200 Anos da nossa Independência, que serão lembrados, talvez comemorados, no próximo dia 7 de setembro: a posse no TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Nem sei por onde começar, mas a expressão “todos e todas” não faltou. Um erro de português grotesco, um pleonasmo, uma redundância que fere os nossos ouvidos. Mas ela estava lá, sendo utilizada abundantemente pelos doutos.
Tudo começou com um desfile dos convivas, diante dos Dragões da Independência, perfilados com espadins. Digno de inveja ao cerimonial de Buckingham. O semblante sério dos integrantes da corte, ao entrar, era a imagem perfeita para a irretocável e interminável cobertura da grande mídia, que nunca antes havia dado sequer minuto para evento similar, em outros tempos. A midiática solenidade e referida cobertura tentaram transparecer isenção e mérito irretocável, acima de qualquer suspeita.
Na sequência vieram os discursos, feitos diante de ex-condenado, ex-impichada, ex-golpista, ex-rei da inflação, em primeira fila. O tom das falas lembrou os comícios na Praça da Sé e na Candelária, nos áureos tempos das diretas já. O semblante de seriedade, tragicômico se não fosse triste, seria quebrado na fila de cumprimentos após a solene sessão, com o tom da descontração, simpatia mútua e cochichos de pé de orelha, com direito a foto. Que episódio terceiro-mundista.
Mas tinha mais: Em um dos discursos foi dito que ‘a intervenção da Justiça no processo eleitoral será implacável no sentido de coibir práticas abusivas na divulgação de informações falsas e fraudulentas, sobretudo as fake news, como forma de proteger as instituições, o regime democrático e a vontade popular’. Se colocado em prática viveremos tempos obscuros e sob censura, pois a justiça eleitoral não tem que se preocupar com opinião, informação ou fake news. A escolha do que ler, ouvir, assistir é um processo selecionado pelo eleitor, através da sua liberdade. É ele – eleitor – que exerce a seleção das suas opções, diante do preceito constitucional. Que episódio grotesco. Nunca houve nada parecido no TSE. Quantos ex-presidentes, já falecidos, daquela corte ficariam constrangidos ao assistir tal evento.
Teríamos ainda a cereja do bolo: no dia seguinte, sem nenhuma cerimônia, o anúncio do reajuste de 18% no salário de juízes e servidores do Judiciário criando um impacto de R$ 1,8 bi, ano que vem, no orçamento federal. Em 2024, o impacto será de R$ 5,5 bilhões e em 2025 em diante, uma fatura anual de R$ 6,3 bilhões com poucos comentários da mesma mídia. Que breguice!
*Radialista e editor do www.pelotas13horas.com.br