PELOS OLHOS DO TREZE – José Fernando Gonzalez*
Bem sabemos que no Brasil muitas coisas sucumbem à “velhice” antes de entrar para a história. Nesse quadro, um programa que se mantém no ar por 41 anos,ininterruptamente, não significa apenas o triunfo de seu protagonista, mas sim um marco na história da radiofonia e da cidade. É provável que a alguns de nós passe despercebido, mas ao longo das últimas décadas Pelotas aprendeu a olhar as coisas do seu cotidiano – e especialmente as coisas da política – pelos olhos do “13”.
Faço parte do grupo daqueles que honrosamente integram a “mesa 13 horas”. Ali, diariamente, sob o comando do Clayton Rocha, misturamo-nos aos convidados (às vezes em grande número), para um debate livre onde as ideias são o que conta. Nossa agenda consiste, quase invariavelmente, na arte de não atender agenda nenhuma; afinal, as coisas costumam fugir maravilhosamente do controle, fazendo com que o assunto derive para rumos sequer imaginados, de futebol a crise financeira; da brutalidade de algum crime em evidência à ternura de um poema que por vezes teimo em recitar.
Assim é o “13”: o debate livre sobre qualquer coisa que possa interessar à comunidade de seus ouvintes, captados mundo afora pela magia do rádio e da internet. Ao longo das últimas décadas passaram pela “mesa” incontáveis personalidades, tanto locais quanto de outras plagas, porque para artistas e políticos uma incursão por Pelotas só será inteira após frequentar essa conhecida roda de debates. A repercussão do que se discute no programa demonstra, por si só, audiência mais significativa do que nós mesmos muitas vezes imaginamos, autorizando dizer que um grande número de pessoas por aí costuma ver a cidade e o mundo “pelos olhos do 13”.
Mas não seria justo – nem possível – falar dos quarenta anos do “13” sem reservar ao Clayton Rocha o destaque maior; o reconhecimento mais especial. Esse conceituado jornalista – e querido Amigo – idealizou tudo isso quatro décadas atrás, mantendo-se à frente do projeto modo ininterrupto; das coberturas internacionais ao dia-a-dia dos debates nada teria sido possível sem Ele. Talvez o Clayton não pudesse imaginar quanto iria durar aquele seu sonho de juventude; mas é admirável a forma como administrou a ideia, mantendo-a viva ao longo de quatro décadas, testemunhando todas as profundas mudanças sociais, políticas e culturais pelas quais passou a sociedade brasileira nesse período – e não foram poucas.
Parabéns ao Clayton e ao programa – nessa ordem –, que inseparáveis e incansáveis têm contribuído ao longo de décadas para a informação através do debate das ideias. Certo é, seja como for, que um universo de pessoas – especialmente os pelotenses – haverão de reconhecer ter podido ver as coisas do mundo “pelos olhos do 13”. E que assim possa continuar sendo ainda por muito e muito tempo.
Jose Fernando Gonzalez – Ex-policial civil, Promotor de Justiça aposentado, Professor da Faculdade de Direito da UFPel, Advogado e músico.