ARTIGO – QUANDO PASSA A BOIADA

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QUANDO PASSA A BOIADA

Ivon Carrico*

Na Amazônia o “boi de piranha” é figura recorrente às insaciáveis e famintas criaturas do pântano político, ops, digo dos profundos e largos rios, igarapés e igapós da Região. Não se passa a boiada, nessas travessias, sem ele.

Como na Hiléia, na Política nacional – também – têm esses “gaps”, como dizem os americanos. Mas nunca se sabe quem é (será) o boi ou a boiada. Quem vai pro holocausto ou para o panteão, pois a depender das circunstâncias, o adversário de ontem é o correligionário de hoje. Ou vice-versa.

Nos dias atuais estamos a presenciar essa situação que, dada também a recorrência – tem assumido, às vezes, contornos bizarros.

Nunca na história deste País (desculpem a remissão) se viu tantos trânsfugas. Puro fisiologismo e oportunismo. De ambos os lados.

Na canção do Geraldo Vandré – “Disparada”, um marco da MPB – gado “a gente marca, tange, ferra, engorda e mata”.

Mas nas relações do Poder gente não é como gado. Como ainda disse Vandré: “com gente é diferente”.

Assim, não se tange, ferra ou mata (no sentido figurado) correligionários e aliados em nome das circunstâncias para assegurar qualquer inominável governabilidade.

*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. (Brasília, 05/08/2021).