ARTIGO – OS OPORTUNISTAS DO PLANTÃO – Podcast

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OS OPORTUNISTAS DO PLANTÃO

Ivon Carrico*

Em recente Artigo na Folha de São Paulo o excelente Luiz Felipe Pondé dissertou sobre o surgimento das Operadoras de Saúde de baixo custo, cuja atuação foi motivo de inúmeros questionamentos na CPI da COVID.

Começando sua digressão o consagrado Articulista afirmou que a ‘democratização’ das Faculdades de Medicina inundou o mercado de profissionais medíocres e mal formados, pois a única ‘seleção’ para ingresso nessas Escolas seria o aporte financeiro de cada interessado que se dispuser a pagar de 10 a 15 mil reais por mês.

Daí que investidores perceberam uma grande oportunidade para abrir essas Operadoras empregando jovens que mal conhecem Medicina e que, dificilmente, conseguiriam espaço em Instituições mais competitivas, razão pela qual esse nicho tende a ser ocupado por oportunistas em uma ‘parceria’ e associação de baixo caráter ético contemplando Operadoras, Profissionais, Agências Reguladoras e Associações de Classe.

Tenho que realmente a democratização do ensino médico se expandiu. Em 1997, o Brasil dispunha de 85 Escolas de Medicina. Hoje, 310! Essa expansão teve maior ênfase a partir do Programa ‘Mais Médicos’, instituído – em 2013 – no Governo Dilma. Naquela ocasião tivemos o ingresso de 11 mil cubanos, o que evidenciava a falta desses Profissionais no País.

Por sua vez, ao questionar essa enxurrada de novos Cursos médicos, provavelmente, o Pondé se esqueceu de evidenciar que a implantação desses Cursos no Brasil era gritante, pois não fazia sentido importar e, com isso, fomentar a formação dessa mão de obra lá fora e aqui, ignorar essa carência.

Quanto à qualidade dos Cursos ofertados tenho que o grande Articulista não poderia ter – também – subestimado, ou melhor, sublimado a Residência Médica, a atuação do MEC e do CFM.

Por último, discordando ainda do Pondé, não entendo que o baixo caráter ético seja o ingrediente maiúsculo para ingresso nessas Faculdades. É cediço que, nos recentes anos de chumbo, falsos Laudos e Atestados de Óbito, de mortos pelo aparelho repressor, foram emitidos e assinados por consagrados Legistas do IML/SP formados nas melhores Escolas de Medicina daquele Estado.

Então, provavelmente, o bom exercício profissional nem sempre é razão direta da escola frequentada. Mas, sim, do caráter formado. Principalmente, em casa.

*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. (Brasília, 27/10/2021).

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