ARTIGO – O TRIÂNGULO LITERÁRIO DE 1984: PELOTAS, RIO GRANDE E JAGUARÃO

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1982, Cazarré recebe o prêmio por melhor romance da I Bienal Nestlé: O calidoscópio e a ampulheta. Foto: Arquivo de Lourenço Cazarré.

O triângulo literário de 1984: Pelotas, Rio Grande e Jaguarão

Lourenço Cazarré*

Em 4 de maio de 1984 foi divulgado o resultado do concurso de romances, coletâneas de contos e livros de poesia promovido paralelamente à II Bienal Nestlé de Literatura, o maior certame literário dos anos 1980 e o mais badalado na fase terminal da ditadura militar, que seria enterrada sem missa ou velório um ano depois.

A grande surpresa daquela segunda edição foi a não concessão dos três prêmios para a categoria Romance. Nenhum original apresentado pelos 240 concorrentes mereceu o galardão, afirmaram os jurados – grandes nomes da academia e das letras nacionais.

Já a categoria Conto apresentou uma intrigante surpresa geográfica: os três premiados, entre 447 candidatos incógnitos, eram gaúchos. Como uma peculiaridade interessantíssima: os três eram nascidos e criados em um pequeno triângulo do Extremo Sul do Continente de São Pedro, cujos vértices eram Pelotas, Rio Grande e Jaguarão.

Como naquela época os contistas mineiros eram considerados os melhores do país (sempre jeitosos, bem articulados na mídia e especialistas em se fazerem de sonsos), cogitou-se na eclosão de um boom de contistas gaúchos. Que não ocorreu, mas o fato é que desde sempre o Rio Grande forneceu bons contadores de causos escritos à esta nação empedernidamente ágrafa.

Aliás, há coisa de uns dez anos, ao participar do júri de uma disputa literária de âmbito nacional, fui testemunha dessa tendência gaudéria à fabulação curta: entre os bons rabiscadores de histórias curtas, os centauros e as centáureas eram os mais numerosos.

Comentário maldoso nada a ver: sempre me surpreendeu a pouca presença de paulistas – considerando a potência econômica que é aquele Estado – na literatura brasileira.

Além de Monteiro Lobato, quem?

A quase invisível arte da narrativa curta

Bem, mas não é do conhecido ufanismo guasca, na sua versão mais perniciosa, a livresca, que vamos tratar aqui. Não! Pretendemos apenas espargir um palavrório sobre a quase invisível arte da narrativa curta (editores odeiam contistas e livros de contos), como foi praticada, nos anos 80, em cidades que estão quatro vezes mais próximas de Montevidéu que do Rio de Janeiro.

A verdade insofismável é que a edição de 1984 da Bienal Nestlé – que teria ainda mais 4 ou 5 edições – divulgou no glamoroso mundo da literatura brasileira o nome de três patrícios: Aldyr Schlee (de Jaguarão), Renato Modernell (de Rio Grande) e este modesto radialista que vos fala (filho da Atenas Sul-rio-grandense). O “glamoroso” é de brincadeirinha, gente.

Sensibilidade majoritária
Concursos literários eram e continuam sendo plataformas para o lançamento de jovens escritores (sem parentes importantes) muitas vezes nascidos em estados periféricos e cidades incógnitas. O que não era exatamente o nosso caso, ressalto.

O resultado final de um concurso, em geral, é a imposição de uma sensibilidade majoritária entre os julgadores. Por exemplo: um autor premiado em um hipotético júri que contasse com uma maioria de professores universitários quase certamente não ficaria com o galardão caso o tribunal fosse majoritariamente integrado por jornalistas ou críticos literários (ainda existem?).

Há quem goste de falar mal dos concursos e dos escritores que ganham esses certames. Isso nos leva, obviamente, a supor que esses detratores talvez tenham enviado infrutiferamente seus envelopinhos anônimos a muitas competições.

Alto lá, cara bronzeada!

Ressaltando que nunca foi nossa intenção falar bem da literatura brasileira, aliás, missão impossível, é bom lembrar aqui que os concursos que – por algum tempo, quase sempre curto – tiveram alguma credibilidade entre nós eram disputas para as quais os concorrentes mandavam seus originais sob pseudônimo.

Neste ponto, alguém, desavisado, pode levantar as mãos para o céu e gritar:

– Que maravilha! Que povo tão íntegro é esse que prefere julgar obras literárias sem conhecer o nome do autor!

Calma! Alto lá, cara bronzeada! Não se empolgue. Num país onde pululam as panelinhas, as patotinhas, as patrulhinhas, as turminhas e as ações entre amigos é sempre bom colocar o bigode no molho! Mas, de todo modo, é possível imaginar que que o anonimato possa mesmo ter favorecido algumas obras de mérito.

Chega de falação!

Vamos, pois, discorrer aqui sobre aqueles três livros premiados em meados dos insanos 1980.

O homem do carro-motor (Modernel).

Um detalhe talvez insignificante

Em 1984, aos 30 anos, li rápida e distraidamente os livros de Schlee e Modernell. Não tinha tempo ou experiência – será que adquiri depois? – para avaliar os causos contados naqueles opúsculos e nem para detectar as qualidades estilísticas dos seus autores.

Porém, passadas quase quatro décadas, consegui reler com calma e vagar as três publicações premiadas, que são: Uma terra só (Schlee), O homem do carro-motor (Modernel) e Enfeitiçados todos nós (que lavrei com a minha própria e rombuda pena).

Começarei falando de um detalhe talvez insignificante: o número de contos ou de páginas. Uma terra só traz 14 histórias em 150 páginas; O homem do carro-motor reúne 27 causos em 270 páginas; e o meu Enfeitiçados agasalha seis contos em magérrimas 60 páginas.

Por que meu livro tinha tão poucas folhas?

Por um só motivo: eu não consegui terminar a tempo – contra o prazo fatal da competição – um conto que desejava incluir naquela obra.

A folha de apenas 19 linhas

Aliás, cabe-me aqui, agora, batendo com a mão fechada no peito, fazer uma ligeiramente constrangedora confissão.

– Sim, gente, eu precisei recorrer ao jeitinho brasileiro para alcançar minha inscrição.

Vejamos. Como só consegui finalizar seis dos sete contos imaginados, e o livro me saiu magro demais da conta, inventei um artifício para que ele alcançasse o número mínimo (64 páginas) cobrado pelo edital. Inventei uma folha com apenas 19 linhas datilografadas, enquanto os demais concorrentes as preenchiam com 25 ou 30 linhas.

Foi dessa maneira, meio enviesada, digamos, que meu original atingiu o tamanho necessário.

Em meu favor, ressalto: o edital não fixava o número de linhas, só o de páginas. Portanto, como um esperto boleiro tupiniquim, talvez eu possa afirmar: – Joguei com o regulamento debaixo do braço.

Uma terra só de Aldyr Schlee.

Essa minha maliciosa estratégia não seria possível hoje porque os atuais combates literários cobram um determinado número de caracteres (com ou sem espaços entre eles) ou palavras.

Intrincados cálculos
Há coisa de um ano, encontrei em meus arquivos uma incriminadora folha amarelada que traz uma série de intrincados cálculos.

Que cálculos são esses?

Os cálculos aritméticos que fiz para que meu livro se enquadrasse nas disposições do concurso literário.

O conto inacabado
Como disse, só não alcancei o tamanho mínimo (o verdadeiro) porque não conclui a tempo um conto intitulado “Na hora da sesta”, que só seria publicado em 1986, no meu segundo livro de contos, intitulado Histórias Suburbanas, ganhador do Prêmio Virgílio Várzea, da Fundação Catarinense de Cultura.

Do que trata “Na hora da sesta”? Nele eu relato a caçada – pela zona do Porto, pelo São Gonçalo e pela Ponte – e o assassinato de um louco que pouco antes, naquele mesmo dia, havia matado um menino com uma acha de lenha.

Narradores
Voltemos ao tempo em que as histórias de Enfeitiçados foram escritas. Como nunca fui apaixonado pelos livros de contos que têm um narrador único, quando fui escrever aquele livro tentei diferenciar as figuras que contam as histórias.

Imaginei então uma estratégia, que hoje considero canhestra, mas que de certa forma me entregou o que eu almejava: relatores diversos.

Em “Alcina”, inventei um notívago beberrão, chamado Poeta que – usando a primeira pessoa do singular – contará a tórrida história de amor que teve com uma louca belíssima. Não pode ser lido em ambiente acadêmico, mas me orgulho de tê-lo escrito.

Um segundo narrador, frequentador da Praça dos Enforcados – “onde estamos confinados todos nós, os loucos, os aposentados, os homossexuais, as prostitutas-mirins e os afiadores de faca” -, utilizando-se do coloquial dos gaúchos (tu), dirigirá um discurso poético, altissonante, para um expedicionário que ficou demente durante um combate nos montes nevados da Itália, durante a Segunda Guerra.

Em O cavaleiro, que trata de um fazendeiro que perdeu suas terras (na falência do Banco Pelotense?) e que reside sozinho em um casarão arruinado da zona do Porto, criei um narrador que vai se socorrer do ele para relatar o passeio dominical e a morte daquele lunático deambulatório, atropelado por uma motocicleta na frente da catedral.

Já o homem que quando menino estudou na Escola Técnica serve-se de uma ambígua terceira pessoa do singular (ele/ela) para narrar o drama de Urano. “Mas ela parecia apenas preocupada com o fato de não estar arrumada – tinha o cabelo desgrenhado, os olhos remelentos e o rosto amarrotado por uma longa noite de prazeres indizíveis. Suspirava impaciente porque era meio-dia e já o estávamos tirando do calor de sua cama de folhas de papelão”.

O narrador estroina e decadente de “Mata-moscas”, por sua vez, dirige-se a uns improbabilíssimos leitores (vocês), seus pais, já falecidos, para contar a eles o arremedo de existência que passou a viver depois de tomar posse dos bens da família.

Por fim, há alguém (pudemo-lo suspeitar jovem, da classe pobre e morador da periferia: Vila do Sapo, quem sabe?) que, recorrendo ao nós, falará em nome de todos os moradores da cidade enfeitiçada pela chuva, pelo vento e pelo frio.

Mais três contos
Dando um pulo no tempo, passo agora a falar da segunda edição do Enfeitiçados, que saiu em 2018, pela Editora Insular, de Florianópolis.

Nela, além de “Na hora da sesta”, inclui outros dois textos que têm como protagonistas gente que perdeu o tino.

“Ilhados” conta a crucificação de uma garota por seu próprio pai, um fanático religioso e, portanto, maluco. Um caso semelhante a esse havia ocorrido em algum canto do Rio Grande do Sul. Como não consegui nos anos 1980, tempo sem Google, informações sobre o que realmente havia acontecido, acabei inventando uma versão que se passa na Colônia de Pescadores de Pelotas, a Z-3.

Essa segunda edição de Enfeitiçados ficou bem mais próxima daquela que foi imaginada pelo seu jovem (escrevi os contos aos 29 anos) autor.

Incluí ainda “Animais do banhado”, que retrata a loucura amorosa na sua versão mais extrema. Desvairada por ter sido traída, uma prostituta da Tiradentes mata seu gigolô – um alemãozinho recém-chegado da grota para servir ao Exército – a pauladas e navalhadas em um banhado.

Premiado no III Concurso Josué Guimarães, em 1996, “Animais do banhado” foi publicado na minha coletânea Ilhados, que obteve o Prêmio Açorianos para melhor livro de narrativas curtas publicado no Rio Grande do Sul em 2001.

Essa segunda edição de Enfeitiçados ficou bem mais próxima daquela que foi imaginada pelo seu jovem (escrevi os contos aos 29 anos) autor.

Descobertas
Retornemos ao hoje.

Recentemente, visitei as versões originais desses seis causos que escrevi entre setembro de 1982 e abril de 1983.

Recentemente, visitei as versões originais desses seis causos que escrevi entre setembro de 1982 e abril de 1983, período em que moramos (Luísa, os dois pirralhos e eu) em uma modesta casinha no Laranjal, a 200 metros da Lagoa dos Patos.

Aqueles sete meses foram muito produtivos em termos literários porque eu não precisei, durante eles, suar a camisola para ganhar o pão. Vivíamos de uma indenização trabalhista.

Pois bem, ao reler os esboços de Enfeitiçados, eu descobri que, em sua primeira versão, o conto “Urano” teve outro título (“Cleópatra”). Encontrei o rascunho de um conto chamado “Soldado” que só na sua terceira versão passaria a se chamar “O Expedicionário”. Achei ainda anotações sobre um doido com mania de riqueza que deveria resultar em um conto intitulado “Rico”, mas que nunca veio à lume.

A saudável neurose das revisões incessantes

Lembro de, naquele orwelliano 1984, ter mandado cópias desses contos a um amigo, Floro Freitas de Andrade, escritor gaúcho que então morava em Brasília, para que os revisasse. Floro me respondeu depois dizendo que havia lido com um lápis na mão, mas que não sentira necessidade de descer o malho. Que pena! Depois, só bem depois, percebi que ainda havia muito o que polir naquelas histórias, submetidas a apenas duas ou três leituras.

Infelizmente, na época, eu ainda não tinha sido atacado pela saudável neurose das múltiplas revisões, incessantes, intermináveis.

Pinceladas
Passemos aos outros folhetos.

Segundo livro de contos de Schlee, Uma terra só, confirma todas as qualidades já antecipadas por ele em Contos de sempre, premiado na Primeira Bienal Nestlé, em 1982.

Sempre me impressionou a perfeição com que meu antigo professor de Português no Clássico, do Colégio Municipal Pelotense, manuseava o coloquial fronteiriço, o dialeto dos homens e mulheres – na quase totalidade pobres ou miseráveis – de Jaguarão e arredores.

Essa perfeição, eu vim a saber mais tarde, só poderia mesmo ser alcançada por um homem que dedicou décadas a confeccionar, em relativo silêncio, um volumoso dicionário de palavras, gentes, bichos e coisas do Pampa.

Ao descrever seus personagens, ao narrar a movimentação deles pelo cenário restrito – um casebre, um pangaré, um cusco, raros trastes – em que vegetam, Schlee é sempre preciso e econômico. Sem essa economia, sabemos, nós que lemos outros contadores de causos gaudérios, derrapa-se em direção ao folclórico.

Talvez por saber que Schlee era também desenhista, sempre tenho a impressão – ao ler seus contos – que ele está pintando. Pincelada a pincelada, ele constrói o quadro no qual se moverão os personagens. Pincelada a pincelada, traça as figuras humanas. Talvez por isso, suas frases se repetem, sempre com pequenas variações, mas insistentes. É como se ele, retocando, estivesse sempre buscando dar mais nitidez à cena e aos seres que nela interagem.

Outro aspecto da carpintaria schleeana que me chama atenção é a insistência com que ele, em incontáveis causos, desautoriza o narrador e desmente ou levanta suspeitas sobre a veracidade da história.

Um dos jurados da Bienal de 1984, um dos maestros da academia gaúcha, Flávio Loureiro Chaves – autor de ensaios consagrados sobre Simões Lopes -, escreveu na orelha de Uma terra só:

“A ficção de Aldyr Schlee pertence aos novos caminhos que se abriram, durante os anos setenta, após a renovação roseana. Seus temas profundos, capazes de garantir a amplitude da comunicabilidade, são a concepção trágica de existência e o absurdo essencial que aciona os personagens”. Na mosca, digo eu.

O meu conto preferido de Uma terra só é o excepcional “Anão de circo”, que conta a história de um pai – tão miserável quanto balaqueiro – que ameaça, só ameaça, condenar seu filho a passar a vida sob um teto de lona.

Diversão à beira-mar
Passemos agora a O Homem do carro-motor, um belo livro de um ótimo escritor. ComoModernell costumava datar seus contos, ficamos sabendo que muitas das histórias enfeixadas ali foram escritas quando o autor estava com 26 ou 27 anos. Não é pouca proeza. Aos 29 anos, quando ganha a II Bienal, ele já tinha forjado um estilo. Tão elegante quanto bem-humorado.

Parece-me que a maior diferença entre os contos de Schlee, os meus e os de Modernell é a leveza do papa-areia. É claro, é visível que Modernell se diverte muito enquanto escreve. Diverte-se e quer divertir seu leitor, desde que este, claro, seja esperto para captar sutilezas.

Em sua imensa maioria, os causos de Modernell são sediados em Rio Grande ou Cassino, que ele chama de Netuno e Lagamar. Pode-se, arbitrariamente, dizer que as histórias do rio-grandino são as mais variadas: entre elas há uma com pitadas de novela policial, um texto metalinguístico, outro de ficção científica e causos de uma fantasia desvairada.

Ah, e há até mesmo uma estranhíssima coincidência: Modernel apresenta um belo conto sobre a gênese do futebol de mesa, paixão de Schlee.

O melhor conto do livro é, de longe, sem dúvida, “Os Anos Novos”. Mas há um outro também excelente: “Los mareados”, em que um narrador que não se consegue identificar narra o reencontro, já adultos, de seis amigos do curso secundário.

O contista Ricardo Ramos, filho do grande Graciliano, escreveu sobre O homem do carro-motor: “Renato Modernell conduz seguramente o seu cortejo. Ordenando cenas, falas e perfis, valorizando entrechos e figurações. Há decerto a linguagem, o elemento que ele maneja com amplos recursos. Do oral localizado ao preciso da notação. E o seu contexto maior, as estruturas de armar, desenvolver e concluir. Mas talvez seja ainda mais importante assinalar, nessa ambiência do autor, sua percepção plástica. Um sentido visual, não aberto nem colorido, antes incisivo e cortante, a jogar luz sobre determinado fato. Tal capacidade de revelar diz muito do escritor”

A orelha de Enfeitiçados traz um texto do professor Luís Tavares, cearense, integrante do júri.

A razão desvairada
Por fim, vou dar um pouco de alfafa ao meu burrico.

A orelha de Enfeitiçados traz um texto do professor Luís Tavares, cearense, integrante do júri que me premiou, do qual reproduzo aqui uma parte: “É um mundo silente, de reflexão, sem vozes festivas, mas de intensa palpitação, universo lancinante, perturbador, povoado pela loucura, pela agônica luta do homem amesquinhado pela razão desvairada e atormentado pelo sexo. Não há, ao longo de toda narrativa, concessões a novidades temáticas e formais, nem por isso deixa de exercer poderoso fascínio, interesse cativante, em decorrência de uma prosa heráldica, de um discurso sério a manifestar problemas fundamentais, correlacionados com as forças primitivas, com os desejos que dormem no interior da alma, e com os traumatismos dos choques com a vida, com os revezes da realidade, com a pujança da libido”.

Fiquei feliz por Luís Tavares ter escrito que não faço “concessões a novidades temáticas ou formais”. Nos trópicos, onde tudo apodrece tão rapidamente, talvez não seja mau negócio ser estilisticamente cauteloso.

Voltando ao princípio
Para fechar.

A história de Enfeitiçados todos nós começa na noite em que, durante uma longa conversa, meu pai me elencou dezenas de figuras populares de Pelotas que tinham em comum o desvario permanente.

A partir dessa relação, comecei a trabalhar – livremente, sem querer documentar, só interessado em criar – naquele que seria meu primeiro livro de contos.

Antes, eu havia escrito e publicado duas novelas. Mas acho hoje que escrevi aquelas histórias apenas para provar a mim mesmo que poderia montar uma maçaroca de duzentas páginas, com princípio, meio e fim.

Era e sou basicamente um contista.

*Jornalista e escritor.