ARTIGO – LAPSO DE TEMPO

280

LAPSO DE TEMPO

Neiff Satte Alam*

Ruas estreitas, pavimentadas com pedras de granito e cordões altos das calçadas, em frente a casas antigas e modernas misturadas ao acaso e que revelam antiguidade e modernidade. Este é o centro de Pelotas. Pela manhã, recém findando a madrugada e sob um característico nevoeiro de fim de inverno, parei em uma destas esquinas centrais. Por um tempo indeterminado, aquele momento foi congelado. O presente abriu suas portas para o passado como se fossem frestas no meu centro de memória. Embora o passado não exista, pois é apenas  um conjunto de lembranças, assim como o futuro é uma expectativa de qual caminho devemos tomar para dar sequência a nossa existência, foi o passado que começou a desfilar em minha frente, um passado absolutamente atemporal, mas de lembranças reais. Comecei a ver naquela paisagem congelada, estática e absolutamente fixa os professores que participaram da formação do meu presente, da minha realidade.

Caminhando sem pressa, mas com passo firme e decidido, vi meu professor de História, Professor Paschoal cujas aulas ainda lembro e que me permitiram ter uma visão crítica do mundo de hoje, pois dele recebi não apenas informações, mas conhecimento e saber, quando o via no Bavária ou no Aquários me sentia um aprendiz que se orgulha do seu mestre; na outra calçada, em um impossível bate-papo físico-químico, Lino Laranjeira e Franco Rossi, assim como o Prof. Paschoal, talvez estejam a espreitar seus discípulos para ver onde andam e o que estão fazendo com estas ciências; um tumulto logo adiante chama minha atenção, ali está o Luiz Carlos Corrêa da Silva fazendo poesia da matemática e mostrando a importância das intersecções entre as ciências e as artes de uma forma própria e cem anos a frente de nosso tempo, os que o rodeavam eram ex-alunos que com ele partiram para uma outra esfera, em um plano com certeza superior, uma conexão direta entre o passado e o futuro que só os professores iluminados podem fazer, pois estes não morrem.

Outros tantos professores foram desfilando por entre as gotículas do nevoeiro. Uma multidão de conhecimento e saber formou uma aura de pura luz. Todos se encontrando. Aprendizes e professores entre abraços e lágrimas iam lembrando as peripécias de sala de aula. Foi-se fortalecendo a ideia que a construção permanente do conhecimento não pode ignorar a contribuição dos professores que passaram por nossas vidas deixando a marca de sua sabedoria, competência, abnegação e desprendimento por esta dura missão de ensinar.

Aos poucos o sol foi se infiltrando por entre a névoa e todos aqueles que participaram daquele momento e de todos os momentos de nossa formação, subiram pelos raios de luz e se incorporaram ao firmamento formando um halo indestrutível de amor à arte de ensinar.

Tenho orgulho dos professores que passaram em minha vida e sempre haverá um lapso de tempo para lembrá-los.

*Professor Neiff Olavo Gomes Satte Alam, fundador do Treze Horas e integrante da equipe