ARTIGO – A INFAME EXCLUSÃO SOCIAL

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A INFAME EXCLUSÃO SOCIAL

Ivon Carrico*

No espaço de pouco mais de um mês assistimos cenas que expõem – dentre tantas outras questões mal resolvidas, ou melhor, não resolvidas – que o Brasil tem uma que aflige nosso inconsciente e a nossa consciência social: a questão racial.

Primeiro, tivemos uma professora negra expulsa de um avião, em Salvador, por se negar a despachar sua mochila. Após, um morador de rua, também negro, teve pés e mãos amarrados e foi, assim, preso pela PM, em São Paulo, pelo furto de 02 caixas de bombons, em um supermercado.

Neste último caso, inclusive, o Juiz – ‘ad cautelam’ – já decretou a prisão preventiva desse morador visto a reincidência verificada.

E, como se ainda não bastasse, um outro Juiz, dessa vez em Campo Grande/MS, expulsou um Advogado de Defesa, negro – em uma Audiência – por este ter oferecido água à uma depoente que, nervosa, chorava muito..

O Brasil foi o último País a extirpar a escravidão nas Américas. Foram 300 anos de muito sofrimento, dor e humilhação.

E – ao cabo deste triste período, em 1888 – por sua vez, não se impulsionou qualquer debate para promover o estabelecimento de políticas públicas para o acolhimento desse sofrido povo. Daí que, sem qualquer assistência, das senzalas para as favelas, foi um pulo.

Nesses quase 500 anos, somente no início dos anos 2000 foram estabelecidas políticas de inclusão social direcionadas não só à comunidade afrodescendente, mas – também – a outros estratos sociais.

Mas, os fatos acima demonstram o quão desigual – ainda – é o tratamento dispensado pelo nosso aparato de segurança e pelo nosso Judiciário a esse segmento, objeto desta análise.

Para tanto, basta comparar o tratamento ofertado àquela formanda de Medicina, em São Paulo, que se apropriou de quase 1 milhão de reais dos colegas, para a solenidade de formatura e o tratamento direcionado a esse morador de rua, que furtou 02 caixas de bombons. Revoltante.

*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. Brasília: 01/04/2023