ARTIGO – A HORA DA SOLIDARIEDADE

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Grande voluma de material soterrou totalmente uma casa e atingiu outras duas. Marcelo Oliveira / PMSM

A hora da solidariedade!

Prof. Paulo Afonso Burmann*

Venho acompanhando bem de perto esta situação dramática decorrente desta chuvarada sem precedentes em Santa Maria, municípios vizinhos, em outras regiões e na grande Porto Alegre.

Na verdade, viajei na madrugada de terça-feira em direção à Porto Alegre para acompanhar o sepultamento de um familiar queridíssimo – infelizmente não consegui chegar pelos bloqueios e alagamentos.

Fiquei retido em Candelária e na tentativa de retornar a Santa Maria, a retenção foi na Comunidade de São Miguel. Acompanhando pelo rádio ouvia com preocupação sobre o agravamento da situação.

Acabei conseguindo chegar a São Sepé via Restinga Seca e Formigueiro, para alcançar Santa Maria, via BR 392, que, no entanto, já tinha um bloqueio na região do Arenal. Muito chuva e muita água por todo o lado – casas sendo levadas, lavouras perdidas, máquinas agrícolas, colheitadeiras, caminhões sendo arrastados. Mas o pior é que àquela altura já recebíamos notícias de mortes em diversos ponto do RS.

No dia seguinte, tomei a BR 290 em direção à São Gabriel, Rosário e Santa Maria pela BR 158, o único acesso para SM naquele momento, tendo chegado, já na noite de quarta-feira, assustado por estar recebendo notícias de que os lugares por onde eu havia passado já teriam sido bloqueados por alagamento ou por pontes que tinham sido levadas pela força da enchente.

Mas tudo isto perdeu o significado quando comecei a tomar ciência da grandeza da tragédia que se abatia e ainda se abateria pelo Rio Grande. Muito movimento de autoridades, voluntários, imprensa, redes sociais e anônimos – muitos anônimos, constituindo uma rede de solidariedade jamais vista.

E este é o espírito que deve persistir para levar conforto e segurança a que está precisando muito neste momento. Os relatos não param de chegar e são dramáticos. As querelas políticas, ideológicas e pessoais devem sair totalmente de cena. Não é o momento, definitivamente não é o momento. Vamos reestabelecer a segurança das pessoas, seu conforto e auxiliar na recuperação dos feridos e dos seus bens materiais, especialmente seus lares.

A explosão climática que trouxe este volume de chuvas decorre dos movimentos da natureza em fluxo normal ou acentuada pelas agressões sem controle ao meio ambiente. O que poderia e deveria ter sido feito era agir preventivamente para reduzir os danos e perdas de vidas, com previsões mais precisas e sistemas de alertas mais contundentes – nestes casos, com informações seguras, não basta uma mensagem padrão de SMS, indicando tempo severo até xx horas. O mesmo esforço que os governos estão dedicando agora, deveria ter sido acionado de forma contundente para alertar a população, pelo menos 2 dias antes do início, através da imprensa, das redes, de carros de som, das forças de segurança, etc…. Os governos têm estas informações com antecedência e precisam levá-las a sério.

Mas os culpados pelas medidas preventivas para amenizar as perdas, que deveriam ter sido tomadas e não foram, serão discutidos noutro momento. Agora é hora de seguirmos nesta linha de acolhimento, apoio e solidariedade. Tenho visto muita gente com muito pouco ajudando a quem tem menos ainda.

Continuamos acreditando no amor dos seres humanos!

*Paulo Afonso Burmann, professor, ex-reitor da UFSM e ex-diretor da secretária de educação do governo do estado.