A COPA DAS EXTRAVAGÂNCIAS
Ivon Carrico
Quando do finado Regime Militar que se encerrou em 1985, aqui pelas terras de Santa Cruz, a Câmara dos Deputados foi presidida por um conhecido Parlamentar que se notabilizou – dentre outros – pelas extravagantes festas produzidas em seu curral eleitoral, digo sítio local.
Antes da ascensão aos céus, ops, da assumpção do elevado Cargo Sua Excelência estivera já envolvido em vultosos desvios de verbas públicas.
Em uma Região extremamente árida, onde a seca sempre foi utilizada como moeda de troca e, como na época não havia Pix, as oligarquias locais e o Poder central usaram o órgão federal responsável por, digamos, combater essa adversidade para construir suntuosas edificações e piscinas em afamados sítios. Como o do nosso Deputado.
Tudo isso, claro, circundado por um espetacular cordão de miséria e fome…como ocorre em boa parte do Brasil.
Na ocasião, máquinas e equipamentos desse órgão foram encontrados no local, segundo noticiado. E, como óbvio, ninguém foi responsabilizado. Mas, engana-se quem pensou mal das nossas Cortes Superiores, pois esse assunto sequer chegou ao STF.
Segundo alguns comensais que, naquela ocasião, preferiram o anonimato, em tais regabofes serviam-se, dentre outros, fartas mesas com diversidade de ‘fondues’. Provavelmente com queijos importados da França. Naquela ocasião a famosa rede francesa de supermercados ainda não havia desembarcado aqui.
Já, no outro dia, miseráveis escarafunchavam o lixo – produzido na festança – para comer. Como, também, ainda não havia Internet, não houve memes. A repercussão, no entanto, foi atroz. A imprensa nominou esse episódio como o ‘fondue dos ossos’.
Já, nessa também extravagante Copa do Qatar, fruto de incertos acertos entre a FIFA e a Ditadura local, temos vistos – por sua vez – cenas insólitas que, mais do que ao bizarro, beiram ao extremo deboche da consciência nacional.
Daí que fomos surpreendidos pelo churrasco de carneiro folheado a ouro, tendo como comensais nossos ex e atuais jogadores do selecionado nacional, até aquele conhecido despachante que foi entregar um ‘pen-drive’ por aquelas paragens.
Realmente essa é a Copa das extravagâncias. Para uns poucos. Como o ‘fondue dos ossos’.
*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. Brasília: 05/12/2022