UM AVISO ATRAVÉS DA MEDALHA DE SÃO BENTO

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UM AVISO ATRAVÉS DA MEDALHA DE SÃO BENTO
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Clayton Rocha*
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Eu não pretendia escrever sobre esse episódio, ocorrido há 17 anos. A curiosidade do Sadi Macedo Sapper, no entanto, jornalista e velho amigo que é, encarregou-se, inesperadamente,  de ligar a chave da minha gravadora mental. Corria o mês de janeiro de 2005 e aquela visita de todos os anos era aguardada por mim lá no Palácio do Comércio: a de Dona Nair Assumpção, encarregada do calendário Philomax, o único capaz de preservar o cabelo dos calvos. -” Meu filho, além do Calendário deste ano, eu te trouxe um presente de altíssimo significado, e espero que essa lembrança seja usada por ti, pois trata-se da Medalha de São Bento!”  Há – ainda – algo emblemático a te dizer, Clayton: – O ano de 2005 será marcado por um grande acontecimento de repercussão mundial e tu estarás lá, participando de tudo.
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Seu Santos, respeitável ourives da Galeria Zabaleta, reproduziria em ouro alguns dias depois, e a meu pedido, a preciosa Medalha. A vida seguiu o seu curso e os meses de janeiro, fevereiro e março foram logo vencidos pelas rotinas de cada um de nós com o esquecimento momentâneo daquele episódio. Mas surgiria então aquele 2 de abril, data na qual eu ofereceria um churrasco ao ex-Governador Alceu Collares e ao ministro Mozart Víctor Russomano,  uma velha promessa prestes a ser cumprida. A descontração reinante naquela tarde de sábado na churrasqueira da ACP – Associação Comercial de Pelotas – abriu a porta para o aproveitamento da memória política de Collares,  este falante e inteiramente sintonizado com os quarenta convidados presentes. Até que, de repente, e pelo telefone, chegasse aquela notícia de Roma: – Acaba de falecer o papa João Paulo II.
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Após apresentar as desculpas necessárias naquele 2 de abril de 2005, informei aos presentes que o grupo permaneceria naquela churrasqueira da Associação Comercial, mas que Henrique Medeiros Pires e eu – por responsabilidade profissional – nos deslocaríamos de imediato para o Edifício sede da UCPel, de onde transmitiríamos as últimas notícias sobre a morte do Pontífice polaco que comandara o 3º maior pontificado da história da Igreja, durante 26 anos 5 meses e 17 dias. Após quatro horas de microfone, envolvendo Pelotas e Roma, novas tarefas foram apresentadas: a de comercializar a transmissão, a de organizar o grupo de viagem e a de sediar o Roma 13 Horas entre o Hotel Accademia, base operacional de sempre, ao lado da Fontana di Trevi; e também junto ao Colégio Pio Brasileiro, na Via Aurélia, endereço de hospedagem dos cardeais sul-americanos.  Na sequência, e em questão de 48 horas, os padres Antonio Reges Brasil, Flávio Martinez de Oliveira, além de Marcelo Costa Santos e eu,  já estávamos a bordo de um avião da Alitália sobrevoando a “Cidade Eterna” naquela sexta-feira 15 de abril de 2005. Foi quando, e espontaneamente,  retirei do pescoço a medalha de ouro de São Bento para mostrá-la aos meus companheiros de viagem. – “Reges, e se for Bento?” A resposta veio de imediato: Será um grande nome,  Bento XVI, pois  São Bento é o Patriarca da Europa e Bento XV foi um Pontífice voltado para a paz em tempos difíceis.
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Registre-se que cinco dias depois, ao entardecer,  a fumaça branca da chaminé da Capela Sistina anunciaria que se encerrava ali o período de “Sede Vacante” e que a Igreja tinha um novo papa. E enquanto os sinos das mais de trezentas Igrejas Romanas anunciavam a boa nova, eis que se apresenta na varanda central da Basílica de São Pedro o cardeal alemão Joseph Aloysius Ratzinger, o eleito, o oitavo papa da Alemanha, para dizer ao mundo que escolhera o nome de Benedetto, Bento XVI, na homenagem necessária ao consagrado Santo e ao Patriarca da Europa.
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Ontem, 31 de dezembro de 2022, data da morte do papa Bento XVI, e 17 anos depois daquele emblemático aviso, tomei esta decisão, a de descrever em detalhes esse episódio, para fortalecer quem sabe essa marca que tanto envolve o Debate 13 Horas com as sucessões vaticanas.  Pois convencido ainda de que tal medida será capaz de mostrar a transparência do debate junto aos seus ouvintes, valho-me dessa credibilidade conquistada durante esses últimos 44 anos para dizer ao leitor que ela é o nosso supremo e mais louvável patrimônio. (CR).
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*Jornalista e apresentador do Treze Horas desde a sua criação em 6 de novembro de 1978.