ARTIGO – UMA METAMORFOSE AMBULANTE – Podcast

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ARTIGO – UMA METAMORFOSE AMBULANTE – IVON CARRICO – Podcast

UMA METAMORFOSE AMBULANTE

Ivon Carrico*

Quem não lembra da famosa canção com esse título? E, quem não lembra – ainda – do irreverente compositor que a consagrou?

Já, da minha parte, lembro muito bem quando o então Presidente Lula, em uma cerimônia no Palácio do Planalto, evocou essa canção, para justificar as suas constantes mudanças de rumo na política, na ideologia e na Governança.

Eu estava lá! Como um dos convidados e representante de uma Agência Reguladora. Na ocasião, ele defendeu o retorno da finada CPMF – extinta em 2007, ainda no seu segundo mandato – como uma nova fonte de receita para financiar a saúde pública. Era o lançamento do PAC da Saúde!

Referida tributação, que fora criada em 1997 pelo FHC, incidia(ria) sobre as operações financeiras sob uma alíquota de 0,38%.

Todavia – antes de ocupar o Planalto e como Presidente de Honra do PT e, ainda, como oposição ao PSDB – Lula fora contra essa mesma tributação. Mas, já em pleno exercício do seu Mandato Presidencial mudou de opinião. E, de lado.

Daí a citação da famosa canção para justificar esse tão acentuado pragmatismo.

Aliás, tenho que o pragmatismo em si é bastante salutar. Só não pode ser usado para cooptar a conveniência e a oportunidade. Ou, melhor, por elas ser cooptado.

A presença do pragmatismo na cena política nacional é recorrente. Ainda no Governo militar, no período de 1964/1985, o General Ernesto Geisel, então Presidente da República, reconheceu a independência, bem como os governos marxistas de Angola e Moçambique sob a égide de uma política exterior denominada de Pragmatismo Responsável.

Hoje, em nome de uma, digamos, possível distensão o Alckmin compôs com o Lula para subir a rampa. Uma cena inimaginável e, talvez insólita, até há pouco tempo.

E, por sua vez, ninguém menos do que um dos grandes Inquisidores do Mensalão (Ação Penal 470), o ex-Ministro/STF Joaquim Barbosa, tal qual a Fênix da Mitologia Grega, ressurge das cinzas para alavancar, já na reta final, a candidatura petista.

Seria, então, o Pragmatismo melhor do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo, como na canção do Raul Seixas? Ou um caso de oportunidade, ou melhor, mero oportunismo? Vamos aguardar.

*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. Brasília: 27/09/2022