ARTIGO – UM MENINO EM ESTADO DE CHOQUE

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Um menino em estado de choque

Clayton Rocha*

Eu me vejo em Pedro Osório, testemunhando cenas de alto impacto por ocasião da grande enchente de 1959. Um menino em estado de choque, revejo o levante regional em prol do reerguimento do Cerrito e de Olimpo, então uma terra destruída. Até mesmo a principal manchete daquela época – O Batismo das Águas – ainda soa com crueldade diante de minhas lembranças, bem mais pesadelos do que lembranças. Ovelhas, novilhos, porcos e galinhas eram sacrificados durante dias e noites para alimentar s população pedrosoriense.

Agora revejo esse filme do passado, já tão distante, pensando em todo o terror que ele soube disseminar naquele povo sofrido da minha terra.

Tais pensamentos me acompanham desde o nascimento, muitos anos depois, da Campanha “12 Horas Beneficentes”, agora na Cidade de Pelotas. Pois se essas marcas jamais me abandonaram, entre 1959 e 2024, quer seja em Pedro Osório quer seja em Pelotas, sinto que nessa hora de reconstrução – esta que é a palavra de ordem – a disponibilidade de todos os rio-grandenses deve estar voltada para muitas “24 Horas Assistenciais” durante muitas semanas e meses e em quase todo o seu território.

Diferenças ideológicas e fúrias políticas – a esta altura – já estão sendo levadas pelas águas escuras e impiedosas da grande catástrofe. Eis um tempo que se abre para a compreensão dos fatos, para o exercício da solidariedade e da paciência, para a ação contínua e generosa em favor de quem tanto carece de roupas, de alimentos, de remédios, de água potável e de luz, mas acima de tudo da espontaneidade e da disponibilidade do povo gaúcho.

A partir desta grande tragédia, compreendamos isso, a eleição de 2024 ganha uma nova conotação: o cidadão rio-grandense é quem precisa do seu voto, agora tornado doação espontânea, não em uma urna eleitoral, mas sim em bens materiais, gestos estes autorizados pelo coração, de repente acompanhados por uma prece espontânea, em sintonia com aqueles sinais divinos que se tornam intensos nos templos, diante do pano branco dos Altares.

Lembremo-nos, com paciência infinita, quanto à missão que haveremos de executar nas próximas semanas e meses, em nome da responsabilidade pessoal que acrescenta o termo RS em todos os documentos que nos tornam filhos e cidadãos apegados ao Rio Grande.

Todos nós já temos um candidato único nesta eleição da solidariedade que ora se apresenta, e ele – em nome de todas as pessoas e em nome de todas as ideologias – atende apenas pela “ sigla” RS!

*Jornalista e Coordenador do Pelotas Treze Horas – www.pelotas13horas.com.br – há 46 anos.