Rede de proteção necessária!
Neiff Satte Alam
“… Ainda que não seja um santuário, ela (a escola) continua sendo um espaço cujo status protegido é reconhecido. Quando a violência urbana ou a repressão policial irrompem nas escolas, as mentes espirituais sentem-se chocadas”. (Perrenoud, 2002)
O pragmatismo predominante no mundo moderno, os avanços tecnológicos, o abismo entre as classes menos favorecidas e as privilegiadas pela estrutura sócio-econômica do sistema vigente e as diferenças culturais gritantes, mas escondidas sob um manto de indisfarçável cinismo, constituem-se em poderosos inimigos do sistema educacional vigente.
As mudanças observadas na Escola são desproporcionais às que observamos na sociedade. Como nossa sociedade passa por uma crise muito forte de identidade, com conflitos intra-familiares de grande envergadura, que se reflete nas comunidades mais fragilizadas da periferia das cidades, a Escola tende a ser o escoadouro destes conflitos, que migram diretamente para a sala de aula.
Enfrentar esta adversidade é o desafio dos governos, mesmo que, segundo Perrenoud, “temem que os professores adotem a prática reflexiva, o envolvimento crítico e a cooperação tornem-se potencialmente contestadores ou, no mínimo, interlocutores incômodos”.
Independentemente da necessidade de evolução para um novo modelo mais de acordo com os avanços e/ou mudanças sociais e culturais, há necessidade de uma urgente “rede de proteção” ao professor, pois seu trabalho, por mais profissionalizado que busque ser, esbarra nas tempestades sociais que, diretamente dos grupos familiares, explodem dentro da sala de aula.
Provavelmente os pais esperam encontrar na Escola a solução de seus conflitos, principalmente no que diz respeito a educação de seus filhos, aos altos graus de “falta de limites”, de absoluta irresponsabilidade e baixíssimos princípios éticos e morais.
É dentro deste quadro que se faz necessária a utilização de profissionais especializados e experientes que formem uma “rede de proteção” para que o professor possa definitivamente encarregar-se de por em prática sua missão de ensinar.
Quem formaria esta “rede de proteção”? Bem, são os profissionais que já existem na teoria, que estão previstos nos quadros de recursos humanos das escolas, mas parece não serem considerados importantes para um número expressivo de governantes. Os principais são os Orientadores Educacionais, Supervisores Escolares, Psicopedagogos, Pedagogos e Psicólogos. Estes profissionais, muitas vezes substituídos por professores não habilitados para estas funções, colocariam a Escola em harmonia interna e perfeitamente conectada com a sociedade em que está inserida de forma a dar sentido a expressão de que “a sociedade está na escola e a escola está na sociedade”, um corpo único, mas com funções bem definidas onde as intersecções que dão unidade ao todo (escola/sociedade) não eximem uma e outra do cumprimento de suas responsabilidades para com a educação das crianças e dos jovens.
*Biólogo, Professor de Biologia e Especialista em Informática na Educação. Participa do Treze Horas desde a sua criação, em 1978.