NÚBIA FERRO, PIONEIRA DO JORNALISMO FEMININO EM PELOTAS
Lourenço Cazarré*
A jornalista Núbia Ferro, que faleceu no dia 6 de janeiro em Atibaia/SP, em decorrência de complicações surgidas após uma cirurgia cardíaca, foi umas das pioneiras do jornalismo feminino na Princesa do Sul.
Formada numa das primeiras turmas de Comunicação Social, da Universidade Católica de Pelotas, em 1971, Núbia integrou o esquadrão – de meia dúzia de senhoritas – que invadiu um terreno anteriormente de exclusivo uso-fruto dos marmanjos.
Começou na reportagem do Diário Popular, no início dos anos 1970. O então único jornal da cidade contava com outras mulheres nas suas páginas, mas todas na condição de colunistas/colaboradoras. Ao lado de Núbia Ferro, foram também pioneiras Maria Clara Michels, Vera Silva (que trabalhou por décadas como redatora no DP) e Cleusa Pimenta (nome artístico de Cleusa Pino, há pouco falecida, que teve carreira de sucesso no rádio).
Núbia Ferro chegou a Brasília no final dos anos 1970 com seu companheiro Artur Pereira, também jornalista. O veículo em que ela atuou por mais tempo foi o jornal O Globo, onde trabalhou na cobertura de assuntos econômicos. Dedicou-se por muito tempo à área de agricultura, da qual era grande conhecedora. Mas foi também setorista do Ministério da Fazenda. Sobre seu trabalho naquele que é o mais importante dos ministérios da área econômica escreveu seu colega César Fonseca:
“Profissional dedicada, raciocínio ágil, competente, sempre na cobrança severa para que os repórteres merecessem a atenção adequada; não levava desaforo para casa; aliás, quem na burocracia do Estado tinha coragem de contrariar a fera?”.
E prossegue Fonseca: “Mas tinha um sorriso espontâneo que se esparramava, cobrindo-nos com seu carinho de colega e mãe protetora; ser humano altivo, pronto a colaborar nas causas comuns, embora lutasse como uma leoa para garantir o furo nosso de cada dia, sem o qual pinta o perigo do desemprego na selva do jornalismo diário; todos sabíamos do seu grande drama que encarava com coragem e determinação, sobretudo por um grande amor pelo Dani”.
Artur e Núbia tiveram dois filhos: Daniel e Bruno. Daniel sofre de transtornos do espectro autista e Bruno é publicitário em São Paulo.
Bruno Ferro escreveu: “Minha mãe era uma pessoa difícil, geniosa, inconformada, mas daquelas que dão a vida por quem amam. Literalmente”.
Entre os que conheceram Núbia, são numerosos os relatos sobre suas atitudes firmes e fortes, mas não são poucos os depoimentos daqueles que conheceram o seu lado mais doce, que ela escondia sob uma “persona” que não se permitia “frescuras”.
Luísa e eu convivemos muitos anos com Núbia e Artur, quando nossos filhos – Daniel, Juliano, Bruno, Érico e Marieta – eram pequenos.
Depoimento de Luísa: “Nos anos 1980, quando voltamos de Pelotas para Brasília, Núbia e Artur nos hospedaram na casa onde moravam, na península Norte. Uma casa que tinha um quintal imenso, arborizado. A Núbia costumava fazer um gostoso arroz com frango. Tinha uma panela velha, de alumínio, que ela chamava de cascuda, que era sua favorita. Ela gostava também de fritar ovos para as crianças. Perguntava se queriam com a gema mole ou dura. Sempre tinha sobremesa. Em geral, flan. Lembro que ela gostava que os meninos comessem verduras e legumes, mas não costumava ter muitas frutas. Tempos depois, às vezes, ela deixava conosco o Bruno nos finais de semana em que ia visitar o Daniel. Voltava muito comovida desses encontros. Nós nos reuníamos muito nos aniversários dos meninos. Ela pedia que eu cortasse o bolo, dizia que não tinha jeito para certas coisas. Em muitas oportunidades eu testemunhei a pessoa carinhosa que se escondia por trás de um jeito duro, brusco e forte”.
Núbia Ferro: eis um belo nome para os edis de Pelotas colocarem em uma rua de um desses novos bairros.
*Jornalista e Escritor