Imprensa e a autópsia diária
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Luiz Lanzetta*
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A chamada “Análise de Midia” é um produto criado nos anos 90, em cima da grande diversidade e influência que tinham os jornais, revistas e TVs no Brasil.
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Vivíamos então o mais longo ciclo virtuoso do setor. A Era Dourada dos bons salários. As revoluções estéticas, formais e comerciais. O lançamento de títulos em sequência. Alinhamentos internacionais e desalinhamento locais, como, por exemplo, a ascensão e derrubada do Coojornal.
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Começaram, primeiro, surgir empresas que forneciam este serviço, que era uma clipagem mais sofisticada, com tabelas comparativas, o bem e o mal dos outros sendo qualificados, quantificados e precificados.
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Como a do Oswaldo Martins, por exemplo, uma referência do jornalismo, da política e do samba.
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Em seguida, o serviço foi absorvido pelas assessorias de imprensa, que se “rebatizavam” e reinventavam como agências de comunicação, incorporando outros serviços. Uma clonagem “sem querer” das RPs americanas e europeias – um oportunismo cívico, já que o Brasil se incorporou com entusiasmo à globalização.
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Participei bastante nessa área, como sócio e vice-presidente da Cia de Notícias, depois CDN, até 2002. Uma empresa que atendeu os gregos e troianos das empresas e instituições públicas.
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Foi fundamental para a empresa e para a formatação do novo e sofisticado serviço, o pulo sem rede dado pela jornalista Marília Stabile, da Gazeta Mercantil para uma atividade, a assessoria de imprensa, ainda longe de ser um atrativo profissional para se exibir em jantares de família.
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O complexo mundo da mídia, com seus múltiplos interesses, precisava ser traduzido para públicos de curiosidade mais pragmática. (Minha mãe morreu sem entender o que eu fazia naquela época). Uma coisa me chamou a atenção no Facebook e, logo, coloquei o seguinte comentário, pois a Marilia Stabile, está lançando um novo produto: “Tem um marco chamado “Marilia Stabile” na história da comunicação corporativa do Brasil, a partir da sua ousada passagem da Gazeta Mercantil para a CDN, então Cia. de Noticias, por volta de 1995.
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O setor ganhou referenciais e categorias científicas para análises e tomadas de decisão de empresas e governos. Ao se espalhar no mercado, qualificou a todas as empresas. Existe um AMS e DMS. Eu estava lá, sou testemunha juramentada.
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Foram os anos em que cada dia era uma década. Marília pode cobrar um bônus, que nunca lhe pagaram como deveriam, de todas as associadas da Abracom. Ainda não li detidamente o novo serviço, mas vou errar no que não vi: Nos anos 90, o novíssimo analista de mídia atirava num alvo fixo, com ciclo vital preciso de 24 horas. Não havia dúvida nem debates sobre o que faziam por aí cada objeto do escrutínio paracientífico. Não se precisava renovar conceitos. Cada papel era claríssimo, até nos expedientes para o público. Os veículos produziam e financiavam a produção 100% do seu conteúdo jornalístico. Acreditem.
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Hoje, o problema é bem mais desafiador. Não há clareza sobre nada. A começar pela definição mais primária: sobre a identidade do alvo do analista.
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1 – Quem são os jornalistas, pois até a profissão foi desconstruída pelo STF?
2 – O que é um veículo de Comunicação, físico ou abstrato?
3 – Quem influencia a opinião dos outros, através deles ou diretamente?
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Levantei apenas três questões. Para o item 2 já sugiro a criação do Conselho Nacional dos Produtores de Conteúdo (CNPC) ou Guilda dos Chatos de Galocha (GCG).
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Ou qualquer coisa que a Globo não goste.
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Ainda aplico o meu “método científico” aos carentes de planejamento de carreiras políticas:
Vaidade – Inveja – Ambição.
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Quanto ao resto, a Marília responde. Não preciso nem ler.
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*Jornalista