ARTIGO – CONEXÕES

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CONEXÕES

Neiff Satte Alam*

Estabelecer parâmetros de qualidade para determinado sistema ecológico não é uma questão ideológica, mas uma questão de sobrevivência da própria espécie humana. Quando pessoas e/ou instituições se preocupam em demarcar limites para ações que promovam impactos significativos sobre sistemas em clímax (ecossistemas em estágio de equilíbrio dinâmico) ou, o que é pior, em estágio avançado de sucessões secundárias (ecossistemas instáveis em razão de ações poluentes provocadas pelo homem e em processo de substituição na busca de um novo clímax), estarão contribuindo para uma qualidade ambiental desejável, diferentemente dos que não respeitam nenhum limite, isto é, colocam situações de natureza financeira ou conveniências pessoais acima dos interesses da grande maioria das pessoas que dependem de sistemas ecológicos equilibrados para terem um mínimo de qualidade de vida.

O homem só poderá entender esta lógica colocando-se na posição de ser vivo componente do sistema, isto é, não ver o ambiente ecológico como se não fizesse parte dele, mas inconsequentemente pudesse usufruir integralmente, sem ter que pagar o preço devido. Os impactos ambientais proporcionados por uma crescente má utilização de nossos biomas têm provocado danos cada vez mais graves. Alterações que em décadas passadas não pareciam trazer algum prejuízo, hoje fazem-nos beirar uma iminente catástrofe ambiental, pois, a linha que nos separa do momento em que os desequilíbrios impostos não recuperarão o mesmo equilíbrio dinâmico, sendo frágil, promoverá uma proposta de auto organização da biosfera absolutamente independente da nossa vontade e, o que é pior, das nossas necessidades e conveniências como seres integrantes do ecossistema.

Quando se defende o equilíbrio ambiental e um mínimo de sustentabilidade, não se está protagonizando nenhum modismo ou sectarismo, mas sendo consequente em alertar para os desmandos que já provocaram um aquecimento global sem precedentes, ruptura da camada de ozônio, alterações de clima significativas em ambos os hemisférios, desaparecimento, em número muito maior do que o previsível pela seleção natural, de animais e vegetais, sucessões daninhas em biomas antes equilibrados e em velocidade incompatível para uma recuperação e retorno a estágios primitivos de equilíbrio dinâmico.
Os avanços científicos não poderão ser protagonistas de processos de deteriorização e desequilíbrios de nossos biomas, mas, ao contrário, deverão buscar alternativas para que nossa casa-Terra se constitua em planeta possível de se viver e em harmonia com os demais seres.

Considerando nossa realidade e que o futuro será construído de acordo com os caminhos que escolhermos, é urgente uma mudança de atitude das pessoas, dos governos e das instituições não governamentais. Se não mudarmos nossa atitude, esta realidade, que beira a uma catástrofe ecológica, transformará a biosfera em uma armadilha para a espécie humana.

A receita mais simples é sermos humildes e entendermos nosso papel de participante efetivo do ecossistema e buscarmos os caminhos da harmonia em direção a uma auto-organização equilibrada e dinâmica, sem agressões como as que estão ocorrendo e fazendo valer o fato que o que nos distingue dos demais seres vivos é nossa capacidade de darmos significado ao que conhecemos, portanto mais responsáveis que todos os outros seres do Planeta Terra. Nossa criatividade e imaginação poderão salvar o Planeta e colocar em ordem o caos que se afigura no horizonte de nossas novas realidades.

É com uma visão distinta da atual e com capacidade de percepção mais aguda sobre as conexões que se apresentam bem a nossa frente, mas nem sempre percebidas, pois nosso olhar ainda é de um estranho e não de um habitante e membro deste Planeta que se mantém em permanente estado de auto-organização, buscando no próximo passo um novo equilíbrio, que vamos participando da evolução planetária, não como mera observadores, mas como participantes ativos.

*Professor e um dos criadores do Pelotas Treze Horas.