PANDEMIA: É POSSÍVEL CELEBRAR A VIDA?

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PANDEMIA: É POSSÍVEL CELEBRAR A VIDA?

Dom Jacinto Bergmann*

O ano de 2020 passou: Com ele veio a pandemia do Covid-19. Veio o ano 2021: A pandemia continua, embora com uma esperança pela vacina que está sendo ofertada.

Aproveitei as férias de janeiro e fevereiro para refletir sobre a vida. Tantos seres humanos, meus irmãos e irmãs de caminhada deste início de milênio, perdendo a vida por causa do coronavírus. A morte ficou mais escancarada, embora ela sempre foi uma realidade. Neste contexto é possível celebrar a vida?

Celebrar a vida é torná-la célebre. Tornar a vida célebre porque é um dom gratuito de Deus-Pai: Ele a gera, Ele a dignifica, Ele a governa; Deus-Pai é o criador da vida. Tornar a vida célebre porque é uma oferta gratuita de Deus-Filho: Ele a assume, Ele a anuncia, Ele a salva; Deus-Filho é o redentor da vida. Tornar a vida célebre porque é um sopro gratuito do Deus-Espírito Santo: Ele a reaviva, Ele a torna livre, Ele a plenifica; Deus-Espírito Santo é o santificador da vida.

Podemos e devemos, pois, celebrar a vida – dom, oferta e sopro divinos! Não deixemos a pandemia nos roubar a capacidade da celebração dessa vida. É possível, sim, celebrar a vida. No entanto, é necessário descobrir sempre um novo caminho de como contar os dias e os anos de vida? Contar os dias e os anos de vida torna-se uma nova aprendizagem:

Contar os dias e anos, não apenas pela cronologia, mas pelo espaço que ocupam nosso ser criado à imagem e semelhando divina;

Contar os dias e os anos, não apenas pelos descaminhos, mas pelo Cristo-Caminho-certo que deixamos construir em nossa vida;

Contar os dias e os anos, não apenas pelas falsidades, mas pelo Cristo-Verdade-segura que deixamos moldar a nossa vida;

Contar os dias e os anos, não apenas pelos fracassos, mas pelo Cristo-Vida-plena que deixamos impregnar em nossa vida;

Contar os dias e os anos, não apenas pela descrença, desesperança e desamor, mas pelas virtudes da fé, esperança e amor que Deus colocou nas nossas vidas;

Contar os dias e os anos, não apenas pela amargura da dor, mas pela ressurreição que ela nos traz;

Contar os dias e os anos, não apenas pelas vezes que chegamos, mas pelas vezes que tivemos coragem de partir;

Contar os dias e os anos, não apenas pelo número de troféus que conquistamos, mas pelo gosto de aventura de nossas buscas;

Contar os dias e os anos, não apenas pelos frutos que colhemos, mas pelo terreno que preparamos e as sementes que lançamos;

Contar os dias e os anos, não apenas pela quantidade dos que nos amam, mas pela medida de nosso coração, capaz de amar a todos;

Contar os dias e os anos, não apenas pelas desilusões que tivemos, mas pela fé, esperança e amor que infundimos;

Contar os dias e os anos, não apenas pelos dias e anos que “fazemos”, mas por aquilo que “fazemos” nos nossos dias e anos;

Contar os dias e os anos, não apenas pelas vezes que celebramos aniversários dos dias e anos, mas pelas vezes que os nossos aniversários se tornaram uma “celebração da vida”

**Arcebispo Metropolitano de Pelotas