LIVRO “GUASQUEIRO” SERÁ LANÇADO NESTA QUINTA-FEIRA, 01.06, EM PELOTAS – Podcast

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FERNANDA VALENTE DE SOUZA E RODRIGO LOBATO SCHLEE. Fotos: Clayton Rocha – Equipe Treze Horas.

GUASQUEIRO – SOBRE O LIVRO – RODRIGO LOBATO SCHLEE E FERNANDA VALENTE DE SOUZA – Podcast

GUASQUEIRO – SOBRE OS TROPEIROS – RODRIGO LOBATO SCHLEE E FERNANDA VALENTE DE SOUZA – Podcast

GUASQUEIRO – SOBRE A ERVA MATE – RODRIGO LOBATO SCHLEE E FERNANDA VALENTE DE SOUZA – Podcast

Livro “Guasqueiro” será lançado em exposição que oferece experiência e imersão dentro do universo do couro em Pelotas

Com objetos inéditos criados especialmente para produção do livro, a mostra abre na quinta-feira, dia 01 de junho, às 18h, na Bibliotheca Pública, após sucesso em Porto Alegre Guasqueiro, no sul do Brasil, guasquero ou soguero no Uruguai e na Argentina, é o artesão que usa como principal matéria prima de seus trabalhos o couro cru, sem nenhum curtimento a base de produtos químicos ou vegetais. Seu trabalho é principalmente o de fabricar peças do apero crioulo, como se chamam os artigos de montaria utilizados pelo homem do campo, personagem principal do livro “Guasqueiro: A arte gaúcha do couro no apero crioulo”, que será lançado dia 01 de junho, às 18h, na Bibliotheca Pública da cidade de Pelotas.

Escrito e produzido por Rodrigo Lobato Schlee e Fernanda Valente de Souza, a obra será apresentada ao público junto de uma mostra com centenas de objetos, a maioria confeccionados e registrados pelos autores para a produção do livro e para a montagem de
um acervo que resgata a história do uso do couro pelos gaúchos, mostrando as origens e a
evolução desta centenária arte gaúcha.

A exposição contará com peças que remontam a formação do gaúcho, como uma “pelota” (primitiva embarcação de couro), artigos de montaria como estribos e esporas feitos de couro, um inusitado canhão missioneiro, feito de “taquaruçu” (taquara grossa) e couro, similar aos que foram utilizados na guerra guaranítica e um conjunto composto por diversos modelos de boleadeiras, a principal arma de caça e guerra utilizada pelos gaúchos no passado. Os artefatos ganham vida e recriam um novo tempo e espaço, para ampliar o conhecimento sobre os usos e costumes do povo gaúcho.

Porto Alegre foi a primeira cidade do roteiro a receber o lançamento do livro e a exposição, que levou centenas de pessoas ao Foyer do Multipalco do Theatro São Pedro durante três dias de mostra.

“O livro e a exposição nos ajudam a entender através de textos, imagens e artefatos de couro, a história de um saber-fazer intimamente ligado ao gaúcho, este tipo humano que, no passado, foi por vezes apelidado de ‘guasca’ – palavra que no dialeto quechua significa pedaço ou tira de couro cru. Uma artesania que surge da necessidade de produzir objetos úteis para o dia a dia, utilizando o couro, matéria prima abundante na região. Reunindo habilidades, criando técnicas e processos que forjaram uma arte de mãos e memória. Esse trabalho traz a força do couro e dessa gente”, destaca Fernanda.

Foram décadas de pesquisa e de resgate antropológico, resultando em experiências que estão sendo compartilhadas agora. “Nosso objetivo é difundir e preservar o ofício da guasqueria, uma das primeiras e mais importantes manifestações artísticas do Sul do Brasil, apresentando este tradicional ofício a novos públicos e mostrando a sua história, que se confunde a da própria formação do gaúcho”, completa a autora.

A ideia para a construção da obra surgiu com o passar dos anos, a partir de uma percepção de que poucas referências eram publicadas sobre o tema. Rodrigo, que desde a infância teve contato com o campo e com a tradição gaúcha, foi se tornando naturalmente um estudioso do tema.

Rodrigo Lobato Schlee

“Fui aprendendo a lida de campo e descobrindo os ofícios tradicionais, em especial o trabalho em couro, que desde pequeno sempre me encantou. Com passar do tempo, me dediquei ao estudo e a prática da guasqueria, até que em um determinado momento, além de clientes que vinham para encomendar peças, passei também a ser procurado para ensinar o ofício, transformando o nosso galpão em uma escola de guasqueria”, lembra. Em 2004, Rodrigo e Fernanda foram convidados pela Universidade Federal de Pelotas para ministrarem uma série de cursos formando novos guasqueiros na região.

Formado em Direito pela UCPEL, Rodrigo se tornou uma referência como pesquisador de usos e costumes da cultura gaúcha e mestre da arte de trabalhar o couro. “Com o tempo, passaram a ser constantes as encomendas de peças para museus, coleções e acervos ligados ao universo gaúcho e do couro, fazendo com que eu mergulhasse cada vez mais no resgate das tradições gaúchas e da artesania do couro, tornando-se esta a minha principal atividade”, conta o autor.

Fernanda Valente de Souza

Já Fernanda, formada em Artes Visuais pela UFPel, sempre foi apaixonada pelas artes e encontrou na ancestralidade uma grande influência para o seu trabalho artístico, iniciando pelas pedrarias até se encantar pela cultura pampeana. “Aos poucos, o couro passou a fazer parte do meu universo: criamos um espaço de trabalho em casa que, com o tempo, virou um atelier museu”, conta, e completa: “nosso trabalho se direcionou para o estudo e difusão desta arte, seja através de cursos, exposições, obras literárias ou documentários audiovisuais, procurando sempre compartilhar todas as referências, práticas e processos ancestrais, tão necessários para a manutenção e a consolidação do ofício de Guasqueiro como um patrimônio cultural imaterial dos gaúchos, o que é de fato e direito. Um trabalho de vida, de experiências e compartilhamentos”.

Referências como pesquisadores e artífices desta artesania, Rodrigo e Fernanda são idealizadores e entusiastas do Projeto de Lei aprovado na última semana, na Assembleia Legislativa do Estado, que reconhece e declara o Ofício de Guasqueiro como integrante do Patrimônio Histórico e Cultural do RS.

“Este trabalho busca valorizar a nossa arte regional e os artífices do couro, dando voz e vez aos gaúchos anônimos que com seu conhecimento e habilidade mantiveram o ofício por séculos e deixaram trançados no tempo suas memórias e uma arte genuinamente terrunha”, explica Rodrigo.

Além da mostra, também serão oferecidas visitas mediadas, com a apresentação de ferramentas e técnicas utilizadas na guasqueria, onde os visitantes poderão interagir com o couro, aventurando-se na prática de trançados que são a essência do ofício, e que estarão disponíveis na exposição, possibilitando uma imersão no universo de texturas e sentidos que a cultura do couro proporciona.

O livro
Dividido em quatro capítulos, o livro narra a cultura e a história gaúcha do couro, além de explorar a matéria-prima, ferramentas e técnicas tradicionais do ofício, seguido de um capítulo pensado de forma didática, com um manual básico de guasqueria, onde os autores
ensinam algumas técnicas da artesania, além de termos e expressões relacionadas ao material e seus usos em um glossário. A publicação, de 370 páginas, traz de forma inédita no Brasil, imagens e descrições sobre o trabalho em couro, assim como a sua aplicação em objetos de uso cotidiano dos gaúchos e principalmente nos “aperos crioulos” como são chamados na região os arreios de montaria e nas “pilchas”, vestimentas típicas.

“Contamos um pouco sobre a caminhada do couro na história da humanidade, até chegar ao seu uso na região pampeana, especialmente no período de formação do gaúcho, quando se forma a guasqueria, mesclando culturas oriundas dos povos originários e dos colonizadores. O material foi tão importante para os gaúchos em um determinado momento, que o período ficou conhecido como a ‘era do couro’ no pampa, já que era utilizado com matéria-prima para uma infinidade de utilidades. A relação com o couro começava já na infância, quando o guri do campo confeccionava brinquedos como boleadeiras de sabugo atadas com ‘tentos’, fundas e outros”, explica Rodrigo. Para ilustrar este universo lúdico relacionado ao uso do couro, os autores adicionaram à mostra uma maquete onde é resgatado um típico brinquedo dos gaúchos no passado, os “gadinhos de osso”.

Naturais de Pelotas, o casal Rodrigo e Fernanda atualmente reside em Gramado, onde depois de desenvolverem inúmeros projetos ligados à cultura gaúcha, fundaram há seis anos a Matería Capitão Rodrigo, no Largo da Borges. Um comércio cultural que funciona diariamente como uma escola do mate/chimarrão, na qual se encontra uma mostra permanente de objetos antigos e contemporâneos ligados aos usos e costumes dos gaúchos.

Após a cidade de Pelotas, onde a exposição fica até 06 de junho, Gramado fecha o roteiro de lançamento do livro e exposição “Guasqueiro – A arte gaúcha do couro no apero crioulo”, Gramado, em 15 de junho. A obra estará à venda durante o período das exposições na cidades e, posteriormente, através do perfil do Instagram @materiacapitaorodrigo.

O projeto do livro e da exposição “Guasqueiro: A arte gaúcha do couro no apero crioulo” é
uma realização da Ato Produção Cultural, com patrocínio da empresa Baldo S/A e financiamento da Lei Rouanet, Ministério da Cultura.

Ficha técnica do livro
“Guasqueiro: A arte gaúcha do couro no apero crioulo”
Autores: Rodrigo Lobato Schlee e Fernanda Valente de Souza
Edicão: Fructos do Paiz
Revisão: Marlei Teixeira
Foto de capa: Rodrigo Lobato Schlee
Foto de contracapa: Fernanda Valente de Souza
Projeto Gráfico: Nativu Design
Direção de arte e diagramação: Valder Valeirão
Design assistente: Kim Valeirão
Impressão: Gráfica Ipsis
Produção cultural: Roberta Manaa
Comunicação: Gengibre (Cris De Luca, Carol Kirsch e Mari Moraes)