CABO XAVIER SENSIBILIZA FIGUEIREDO

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O Cabo Clodomiro, sempre atento com a sua saúde, dispensava o jantar “porque queria ir longe para ver muitas coisas mais” apreciava a solidão para aproveitar a paisagem e colocar os pensamentos em ordem.
Cabo Xavier sensibiliza Figueiredo – Por Clayton Rocha

Funcionário das famílias Terra Leite e Leite Reis lá no velho Sobrado do Passo dos Negros, endereço de férias de fim de ano da nossa turma  dos anos 70, o Cabo Clodomiro Inácio Xavier era um contador de causos, daqueles que ficam esperando pelo aplauso do grupo. Enveredou madrugadas conosco cuidando de um bom fogo de chão e de uma costela que fosse capaz de deixar o grupo “lambendo os beiços”. Certa noite, saudosista, contou-nos de seus laços de amizade com o General Euclydes Figueiredo, de quem fora ordenança,  e pai do então presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo. Guardei aquele relato espontâneo muito bem guardado, pois eu sabia que o Cabo Xavier necessitava de uma boa aposentadoria. Nanato Reis, Bebeto Reis, Cacaio Reis, Fábio Terra Leite, e todos os demais hóspedes do Velho Sobrado perceberam que eu iria levar adiante, em curto espaço de tempo, o meu propósito.
Funcionário das famílias Terra Leite e Leite Reis lá no velho Sobrado do Passo dos Negros, endereço de férias de fim de ano da nossa turma  dos anos 70, o Cabo Clodomiro Inácio Xavier era um contador de causos, daqueles que ficam esperando pelo aplauso do grupo.

Passadas algumas semanas e, na capa do Diário Popular, um anúncio: Figueiredo irá a Jaguarão. Munido de documentos, recortes e fotos do Cabo Clodomiro, e com muita energia na palavra, fui recebido pelo presidente da República. O assunto que me motivou a procurá-lo, presidente,  envolve a figura de seu pai, lá atrás no tempo, quando este senhor da foto era o ordenança do General Euclydes Figueiredo. Foi o suficiente! Apegado aos detalhes, o presidente esticou a conversa e quis saber fundo sobre o Cabo lá do Passo dos Negros.

Três ou quatro meses depois o Palácio do Planalto informou-me do andamento do processo de aposentadoria, que viria a ser conquistada ainda naquele ano por Clodomiro Inácio Xavier. O seu ar de felicidade pessoal quando recebeu os proventos de sua aposentadoria acompanha-me até hoje. O filho do homem, dizia ele, é de palavra, sim senhor. Jamais um Figueiredo faria uma promessa falsa, dizia Clodomiro Inácio Xavier, um coração inocente do tamanho daquele Sobrado inteiro, o endereço pelo qual zelava no segundo tempo de sua vida de homem simples do campo lá junto às correntezas sempre traiçoeiras do Canal São Gonçalo.

O Cabo Clodomiro, sempre atento com a sua saúde, dispensava o jantar “porque queria ir longe para ver muitas coisas mais” apreciava a solidão para aproveitar a paisagem e colocar os pensamentos em ordem. “Sempre que vou à cidade volto de lá com os miolos fervendo”,  dizia ele. Xavier precisava de silêncio para poder ouvir o sabiá-laranjeira cantar. A esta altura da vida, pregava, “nunca estou mais acompanhado do que quando estou sozinho”. (CR, 14 de junho de 2020).