ARTIGO – REVOLUÇÃO DO PENSAMENTO

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REVOLUÇÃO DO PENAMENTO
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Neiff Satte Alam*
A locomotiva fumegava poderosa sobre os trilhos da via férrea que liga Pelotas a Rio Grande. Toneladas de ferro se movem sobre um solo que trepida no mesmo ritmo da pressão que o vapor exerce sobre suas rodas. Apesar da segurança, rapidez e tranquilidade, a locomotiva, desde o século XIX, durante todo o século XX e continuando no século XXI, é prisioneira das linhas paralelas dos trilhos.
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Muitas vezes acompanhamos nos noticiários os desastres de trens que saíram dos trilhos, isto é, saíram da linha. Faço estas divagações em razão de uma análise comparativa do trabalho dos professores em sala de aula, dos gestores de educação em nível nacional, enfim de todas as instâncias educacionais, que é feito de forma linear e dentro de uma filosofia calcada em uma visão determinista, sem dar valor ao acaso na evolução dos projetos e das ideias.
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Assim como as locomotivas não poderiam se libertar da linha, o interacionismo, a visão de rede e o acaso como propulsor de novos caminhos não eram levados em consideração, pois todo o pensamento que fosse levado para este caminho seria desprezado e considerado inadequado, assim como teríamos um desastre se a locomotiva saísse dos trilhos.
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Por muitos séculos o nosso pensamento tem se dado de forma linear, contrariando a própria estrutura orgânica que dá sustentação a este pensamento. Estamos todos forçados a uma forma linear de pensar, ignoramos as conexões tridimensionais de nossos neurônios e as lições recentes dos hipertextos e links do mundo informatizado que nos remetem para o ciberespaço, que não atua em linha, mas em rede, isto é, “não linear”.
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É urgente, portanto, promovermos uma grande revolução do pensamento. Uma revolução que nos tire da prisão da linha e nos remeta para liberdade da rede, com infinitas conexões espaciais/temporais. Esta revolução se faz necessária para que possamos usufruir da tecnologia que alimenta o mundo de informação de todos os tipos e de todas as origens, rompendo fronteiras geográficas e até mesmo culturais.
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Da mesma forma que nossos neurônios, a informação que navega pela internet e toda esta tecnologia de informação trabalha em rede. Invertermos nossas técnicas de ensino/aprendizagem, da linearidade para a “não linearidade”, seria o primeiro grande passo para esta revolução, pois temos que pensar, refletir, ensinar, aprender e finalmente agir, dentro desta “não linearidade” que nos manterá equilibrados e em movimento mesmo que saiamos dos trilhos.
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É urgente esta revolução, pois dela depende o futuro da humanidade com um ajuste já tardio entre a disponibilidade orgânica e as novas tecnologias.
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*Professor e integrante da Equipe Treze Horas desde a criação do programa, em 1978.