ARTIGO – COMO OCORREU A OPERAÇÃO DE RESGATE DO EX-GOVERNADOR LEONEL DE MOURA BRIZOLA DO TERRITÓRIO BRASILEIRO – Podcast

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Hoje na História

Enviado por Paulo Duarte

De Laquito Leães

História completa como ocorreu a operação de resgate do ex-governador Leonel de Moura Brizola do Território Brasileiro.

ENTREVISTA DE LAQUITO LEÃES AO TREZE HORAS – Podcast

Brizola permaneceu quase um mês na clandestinidade em solo gaúcho, mesmo sendo perseguido, o seu primeiro refúgio foi numa fazenda situada perto da capital. Uma semana após, viajou à noite com a esposa Neusa e os três filhos para Porto alegre, indo para casa de um amigo situado a rua Eça de Queiroz, no bairro Petrópolis, depois disso, se refugiou em diversas residências de amigos e políticos.

Brizola se encontrava em Porto Alegre, mas sem condições de sair do país, pois as buscas, a “caça ao Brizola”

Brizola se encontrava em Porto Alegre, mas sem condições de sair do país, pois as buscas, a “caça ao Brizola”, se intensificaram, tendo a sua residência à Rua Tobias da Silva n°66, sido invadida e depredada pelas forças de repressão. Toda a informação dava conta que os militares o prenderiam. Não havia outra alternativa senão o exílio, afirmava Brizola, pediu então aos seus amigos que levassem Neusa e os filhos para Montevidéu. Dessa forma Brizola acabou se refugiando no apartamento do grande amigo, ex-vice-prefeito de Porto Alegre, o renomado advogado Ajadil de Lemos, o apartamento localizado a rua, Duque de Caxias, a uma quadra do Palácio Piratini.

Laquito Leães, filho de Manoel Leães o “Maneco”, concedeu a entrevista acima ao Treze Horas. Confira no Podcast.

Manoel Soares Leães, (mais conhecido por Maneco), conta que em fins de abril de 1964, quando acompanhava o ex-presidente João Goulart, comentou sobre o desejo de Brizola sair do Brasil. Maneco, recebeu no seu apartamento a rua Bulevar España esquina com La Rambla, barrio Positos, um emissário que lhe propôs a missão de resgatar o ex-governador Brizola. Durante dez dias estudou a possibilidade de fazer o resgate em Porto Alegre, por achar muito arriscado a melhor alternativa seria realiza-lo litoral gaúcho. Solicitou, então, ao emissário que fosse analisado os movimentos das marés “alta e baixa”, com areia firme, faria um pouso com segurança. Para tal, deveriam estar na praia um caminhão e dois carros, posicionados no formato de uma “cruz”. Esse seria o sinal de que o plano de resgate não havia sido descoberto. Maneco então rasgou uma nota de um cruzeiro ao meio, ficando com uma metade, a outra metade seria-lhe entregue pelo emissário que traria o plano de resgate de Brizola.

O deputado Hélio Fontoura, veranista de Cidreira, ficou encarregado de analisar o melhor horário para Maneco pousar e realizar o resgate. Deveria ser entre 7:30 e 8 horas da manhã, horário em que areia estaria firme. Coube à dona Lenira, esposa de Ajadil de Lemos, levar Brizola para o litoral.

Na madrugada do dia 15/04/64, saíram da garagem do prédio, na Avenida Duque de Caxias, no Wolkswagen verde dirigido por dona Lenira, Brizola estava vestido com a farda e o capacete branco da Brigada Militar, cedido pelo Coronel Atílio Escobar, ex-Chefe da Casa Militar, que retirou as estrelas das fitas dos ombros. Brizola entra no Wolkswagen com mais duas pessoas, sentando-se no banco traseiro, e seguiram em direção ao litoral gaúcho. Ao se aproximarem de Águas Claras havia uma blitz, foram momentos dramáticos. Brizola falou: preciso manter a calma. “Se eu for reconhecido serei preso e morto.” O veículo foi parado por soldados militares, dona Lenira ao abrir a janela do carro, e o soldado olhou para o interior do fusca, Brizola executou a continência, tocou o seu chapéu com as pontas dos dedos e o soldado, nem pediu os documentos, mandando-os passar. E assim seguiram viagem para a praia de Cidreira, até o local do resgate onde ficariam aguardando a chegada de Manoel Leães o “Maneco”.

Passados alguns dias do resgate fui chamado a comparecer no hotel Lancaster no centro de Montevidéu, onde Neusa e os seus filhos estavam hospedados, já sabendo que seria peguei o carro de Jango e fui o mais rápido possível ao hotel, ao chegar lá, Neusa e o emissário Ajadil de Lemos estavam à minha espera, com ele, a outra metade de um cruzeiro e com o plano de resgate. Um dia antes havia comentado com a minha esposa que viajaria ao interior uruguaio, para receber as cabeças de gado que Jango havia comprado e iria despachar para a fazenda El Rincón, departamento de Tacuarembó. Na madrugada do dia seguinte, peguei a minha família e fomos para Punta del Este, era preciso ludibriar os agentes que nos vigiavam. Orientei então a minha esposa Odila que, caso eu não retornar até o fim da tarde, ela deveria voltar para Montevidéu e entrar em contado com Jango.

As 5 horas do dia seguinte decolei do aeroporto de Punta del Este totalmente às escuras. Fui para o interior uruguaio. Era preciso enganar os agentes e, teria que chegar a praia de Cidreira entre 7:30 e 8 horas. Em 15/04/1964, Maneco Leães pilotando o Cessna 310 bimotores azul e branco prefixo PT-BSP, levantei voo clandestinamente do aeroporto de Acuhel, cidade do interior uruguaio, ao decolar sintonizei no VOR a rádio Guaíba e, durante o voo ouvi uma entrevista de uma autoridade do governo comentando, que em poucas horas o ex-governador Leonel Brizola estaria preso.

Ao aproximar-me do litoral: fui para a praia de Cidreira-RS, ao avistar o sinal notei que o plano não correspondia ao que havia sido combinado.

Cheguei a pensar que seriam dois os presos! Para não ser percebido pelos radares vinha voando baixo, pouco mais que um metro acima das ondas do mar. Ao aproximar-me do litoral: fui para a praia de Cidreira-RS, ao avistar o sinal notei que o plano não correspondia ao que havia sido combinado: estava faltando um carro. Pensei em retornar, que o plano havia sido descoberto. Mesmo assim resolvi sobrevoar a praia, quando avistei o, Brizola saindo de trás dos cômoros (dunas) de areia com o capacete branco na mão abanando e vestido com a farda da Gloriosa Brigada Militar do Rio Grande do Sul, farda emprestada pelo coronel Atilio Escobar.

Pousei na beira da praia e nem desliguei os motores, abri a porta do avião enquanto Brizola entrava e fechava a porta já estava decolando e voando baixo em direção ao Uruguai. Durante o retorno o, Brizola perguntou: Maneco olha para trás e vê se não vem vindo algum avião da FAB, eu tranquilizei-o: não há mais perigo de sermos interceptados, já estamos perto da fronteira, pouco depois ultrapassamos a fronteira, saindo do território brasileiro, anunciei ao Brizola que já estávamos no espaço aéreo uruguaio! Ele apertou a minha mão e agradeceu: obrigado Maneco! Posei na cidade de Sarandi Grande a 150 km de Montevidéu, início do seu exílio!

Esta foi a última operação de Manoel Soares Leães o “Maneco” em solo brasileiro. Brizola parecia aliviado porque iria encontrar-se com a sua família. A viagem terminou em Solymar um balneário nos arredores de Montevidéu, onde o ex-Presidente João Goulart o esperava.

Quinze anos depois o mesmo Maneco Leães iria buscar Brizola em Assunção no Paraguai, no dia 07/09/1979, as 7:30 a bordo do avião Sêneca prefixo PT-ESO, propriedade de João Vicente Goulart, levando Brizola e a sua comitiva com destino a São Borja-RS. As 09:30, pousa o avião na pista da Granja São Vicente de propriedade do ex-Presidente João Goulart.

Mais de 30 mil pessoas o esperavam, com Maneco desembarcaram Neusa e os seus filhos, Sereno Chaise, Wilson Vargas e Pedro Simon, encerrando o seu exílio. Brizola teve que subir na capota de uma Kombi, para poder vencer a multidão que queria tocá-lo, acenando para o povo são-borjense.

Manoel Laquito Barbisan Leães