ARTIGO – AS TEMPESTADES BRASILEIRAS

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AS TEMPESTADES BRASILEIRAS

Ivon Carrico*

No curto espaço do nosso verão tropical, compreendido entre os meses de dezembro e março, temos a ocorrência – anual – de severos fenômenos climáticos que arrasam comunidades e vidas.

Daí a recorrência de tantas tragédias. Só que o brasileiro não poderia imaginar ou contar, entretanto, é com a imprevisibilidade, a imprudência, a incompetência e a desonestidade de tantos dos nossos Governantes.

O recente caso em São Sebastião/SP, é emblemático. Há 02 anos o Ministério Público alertou a Prefeitura deste município e o Governo Paulista acerca dos riscos iminentes e imanentes. Nada foi feito. Em Petrópolis/RJ, há tempos atrás, a mesma coisa. Nada foi feito.

Na essência dessas tragédias, contudo, está o abismal fosso social que nos divide. Não precisamos de grandes elocubrações para saber que os mais pobres têm sido os mais atingidos.

A falta ou a pouca abrangência de políticas públicas para essas camadas, severamente estratificadas, expõe o nosso descaso, insensibilidade e menosprezo.

Daí que essas populações, marginalizadas, são obrigadas a recorrer às várzeas ribeirinhas ou ao sopé dos morros para morar. Claro que, então, com o risco inerente visto a degradação ambiental, assaz decorrente.

Eles não cabem na especulação imobiliária ou nos planejamentos urbanos. É um sistema excludente que os empurra para a periferia existencial. Sim, porque eles não existem e/ou são invisíveis em um sistema que segrega e distingue. Até quando?

*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. Brasília: 25/02/2023