A máquina mortífera de bestializar brasileiros – Parte 1
Luiz Ricardo Lanzetta*
Lula está ponteando a futura eleição em inúmeras e inúteis pesquisas de simulação de voto, para o estímulo de debates modorrentos e faniquitos das tias velhas, que estão em todos os lugares.
Lula desfila na passarela da pré-campanha como Paulo Maluf e Celso Russomano em outros tempos, como ameaças não consumadas, no meio do caminho.
Maluf teve a conquista da prefeitura de S.Paulo, em 1992, quando não havia segundo turno, como exceção ao estigma. Já o outro, tem a marca de quem corre em cancha reta nunca chegará ao Jóquei Clube.
Em comum, Lula e Maluf tiveram em 2002 e 1992 o mesmo marqueteiro e as mesmas circunstâncias favoráveis.
A imprensa, massivamente, atribuiu a vitória de ambos à genialidade do marqueteiro, sem levar em consideração as circunstâncias gerais e o desgaste alheio, que poderiam, certamente, levar ao mesmo resultado. Melhor e mais barato.
Estamos vivendo um período de simulações quantitativas, como poesia concreta.
Há gráficos que parecem dizer algo. Ou não.
Agora, seria mais útil neste momento a aplicação do método dos “peles vermelhas” de filme de bang-bang.
Colocar o ouvido coladinho na terra, que é de onde estão vindo os murmúrios das futuras gritarias.
Num momento desses, um eleitor do Lula poderia indagar ao chão quais as vantagens adventícias de se pisar em cascas de bananas do outro lado da rua repetidas vezes.
Para a alegria dos adversários, Lula abordou novamente o assunto regulação da mídia, seja lá isto o que for, entre outros temas.
Ele pode falar sobre tudo, mas poderia se preparar antes. Cascas de banana são respostas mecânicas, com os chavões de sempre, sem surpreender.
A imprensa adora expô-lo com manchetes pré impressas e opiniões mofadas. Como as que começaram a se repetir sobre o controle da mídia e de seus afins.
Quem tem medo da suposta disciplina aos veículos de comunicação pelo PT ou por organizações cripto sindicalistas, deveria seguir dormindo com muita tranquilidade. E não atacá-lo como se fosse um ataque de autênticos Peles Vermelhas.
É só examinar as ações concretas dos ministérios petistas, e aliados, em seus 12 anos de caneta na mão, que as tias velhas da grande mídia teriam que deixar de fingir desmaios e pedir “ai, meus sais!”
A regulamentação das rádios e tv, que é de 1962, ficou intacta e pura lá no interior do Ministério das Comunicações desses perigosos selvagens.
A espantosa Rede TV teve sua concessão renovada no governo Dilma, em 2011, por 15 anos.
Não se sabe se a emissora é ruim por ser bolsonarista, ou se é bolsonarista por ser ruim.
A Secom companheira distribuiu verbas baseadas em critérios “técnicos” estabelecidas pelo mercado de consumo, como os liberais privatistas.
A Secom vermelha nunca cogitou estabelecer uma “técnica” para o “mercado” de usuários de serviços públicos e de programas sociais, constitucionais ou não.
O pessoal do Fome Zero não compra marcas, grifes, atitudes e tendências do Estado brasileiro.
Ao contrário, tem que fugir das más línguas e ser orientado seriamente, sob pena de nem tomar conhecimento do que tem direito.
Há mortes por inanição e ignorância, frutos da má estratégia da comunicação pública.
O marqueteiro comum e genérico, do petismo e do malufismo, vale relembrar que, no início do governo Lula, utilizou-se de artistas para representar pequenos agricultores.
E vendeu o conceito dos programas sociais ao contrário.
Lá no CADE – a vigilância sonolenta da livre concorrência – o PT nunca arriscou perguntar sobre a suposta manipulação do dinheiro público e privado, que poderia estar fraudando a liberdade do “espírito animal”
na área da publicidade.
Isto entre veículos da imprensa livre e altaneira, gente de bem como sabemos, bem aquinhoada através do suborno virtuoso dos “bevês”.
Não há nada comprovado, no tocante a esta espécie de “rachadinha” da Vila Olímpia, mas este governo atual foi o único a mostrar sua curiosidade sobre o fenômeno.
Talvez para mudar de patamar.
Podem dormir um sono de Lexotan quem comparar o que foi feito em outras áreas nas gestões petistas, principalmente as que reforçaram a concentração de renda e a verticalização dos negócios. Transferir o método para a comunicação social é um bom exercício.
Lembramos de três: energia, agronegócio e obras públicas.
Há muitos outros exemplos, a partir de um exame superficial, do bom comportamento do petismo em relação à mídia e à economia tradicional.
A grande imprensa sempre foi ingrata ao servilismo de grandes quadros petistas.
Alguns responsáveis por esta militância premium já voaram.
Como um dos principais, o consiglieri Antônio Palocci, quando exibiu ao País a infâmia sem fronteiras das delações combinadas.
O Estadão pode ressonar tranquilo. Nada indica mudança de postura em seus sucessores, consieglieri ou não.
O que não deixa dormir as minhas tias são as crises artificiais em cima de distorções e preconceitos de sempre.
Elas também acreditam em novelas e no Paulo Guedes.
Mas o frisson no estômago de outros macróbios, é causado por conselheiros que ficaram por ali, nos cantos escuros, se esgueirando como velhos gatos gordos nos antigos armazéns do status quo.
Esta série recomenda a leitura do livro Os Bestializados, de José Murilo de Carvalho, Cia. das Letras.
*Jornalista