Viventes e Sobreviventes – Adolfo Antônio Fetter Júnior *
Pela imprensa – e pelas redes sociais – estamos sendo “bombardeados” por todo tipo de informação (e de desinformação também). Por isto chego à conclusão que estamos no meio de uma “guerra diferente”, com “batalhas” diárias nos mais diversos temas (desde a Pandemia em si, até temas sociais, ideológicos, religiosos e econômicos, para citar alguns).
Somando-se a isto, estes quase 3 meses de isolamento (e agora de distanciamento) social estão causando profundo impacto na vida, no bolso, nas emoções e no psicológico das pessoas, com as mais diversas reações, na maior parte das vezes de caráter emocional, mas também expressando posições políticas ou explorando temas momentâneos.
É tanta coisa ao mesmo tempo – e tantas informações e opiniões desencontradas – que as reações tem variado desde a radicalização de posições (de um lado e de outro, bem como até entre estes dois extremos), até a exacerbação de sentimentos (refletindo desde o desespero, a raiva, a negação, a insegurança, chegando ao oportunismo político variado).
Nestes “tempos estranhos” alguns se consideram SOBREVIVENTES das batalhas diárias e expressam esta visão de que o “desconhecido” é uma ameaça permanente a si e aos demais e clamam por mais CONTROLE, ISOLAMENTO e até mesmo a imposição de MEDIDAS EXTREMAS.
Outros se veem como VIVENTES e não abrem mão de tentarem continuar sua lida (e vida) anterior, ou definirem uma nova rotina e um “novo normal”, e defendem a RETOMADA (maior ou restrita), a LIBERDADE e, alguns, também MEDIDAS EXTREMAS…
Os Governantes também tem posições variadas – e até extremadas…
Alguns estão em “fim de mandato” e encontraram nesta crise novos desafios e oportunidades, tendo reações também muito variadas, desde a LIBERAÇÃO TOTAL até a imposição de MEDIDAS ARBITRÁRIAS (muitas vezes “ridículas”, como a retirada de bancos das Praças, para as pessoas não poderem neles se sentar, ou “ilegais”, como a criação de barreiras na entrada de suas cidades…).
Outros estão praticamente no início de seus períodos como governantes e concluíram que teriam que liderar ou impor soluções para momentos tão desafiadores e inusitados, alçando-se à condição de “chefes em uma realidade de guerra”, seja contra um inimigo invisível (o Coronavírus) ou outros visíveis a quem definiram como “adversários” ou “concorrentes” (atuais e futuros…).
Enfim, os governantes também oscilam entre se considerarem viventes ou sobreviventes e suas iniciativas tem variado bastante ao longo deste turbulento período!
Há alguma LUZ no fim deste TÚNEL?
Certamente as pessoas estão um tanto “perdidas” no meio deste verdadeiro tiroteio (verbal ou factual), ou “achadas” (na reafirmação de suas crenças, aspirações ou temores), mas NINGUÉM está “IMUNE” ao que está afetando nossas vidas e a própria sobrevivência enquanto pessoas e agentes políticos e econômicos.
No entanto, estudando o PASSADO “passamos” a ficar cientes de que OUTRAS PANDEMIAS já afetaram o mundo, em outros tempos. Algumas tiveram impacto mundial, como a Gripe Espanhola há cerca de cem anos e mataram milhões (estima-se que foram 50 no planeta). Outras foram menos impactantes (H1N1, sarampo, dengue, zica, varíola, etc.) ou localizadas (como o Ebola, na África). Portanto, com maior ou menor impacto, PASSARAM ou ainda ESTÃO PRESENTES no momento atual.
Como não sabemos até quando o Covid19 estará dominando nossas atenções e preocupações, o desafio PRESENTE é a busca da prevenção e de tratamento para uma doença até agora desconhecida até dos médicos.
A expectativa e a esperança é de que descubram – com a maior brevidade – uma VACINA que nos traga tranquilidade para o FUTURO, ainda tão INCERTO. Até lá, continuaremos sendo VIVENTES ou SOBREVIVENTES!
Mas o que sabemos é que VAI PASSAR!
Como diz a conhecida canção “TUDO PASSA, TUDO PASSARÁ”, ou no dizer do poeta Mário Quintana “ELES PASSARÃO, EU PASSARINHO”.
Se alguns governantes estão “extrapolando” suas atribuições é preciso alertá-los que NÃO podem tudo. Se estão se “omitindo” também precisamos ajudá-los a se darem conta disto.
Na minha percepção não há um ÚNICO CAMINHO ou uma VERDADE ABSOLUTA em relação a estas questões “inusitadas” – pois a realidade é diferente para cada um de nós -, mas entendo que a função dos governos é nos orientar, disciplinar e mobilizar para este enfrentamento necessário. E nós, os governados, temos o dever de participar, colaborar e compreender o momento que vivemos.
No entanto, TODOS precisamos reler a Constituição brasileira e entender que, nela, estão os DIREITOS, os LIMITES e as GARANTIAS aos cidadãos. Ela assegura que TODOS são iguais perante a lei e, em um Estado Democrático, NINGUÉM pode ser privado de suas LIBERDADES (sejam elas de associação, de trabalho, de manifestação, entre outras).
Enfim, a CIDADANIA não se restringe apenas às Políticas sociais – que são importantes e imprescindíveis – mas à PARTICIPAÇÃO naquilo que nos afeta – o que é fundamental e essencial.
*Adolfo Antônio Fetter Júnior Júnior foi Prefeito de Pelotas e Deputado Federal