ARTIGO – OS DOIS JUÍZES DE PAZ!

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OS DOIS JUÍZES DE PAZ!
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Clayton Rocha
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Dr. Pedro Brizolara de Souza: Olimpo e Arroio Grande.
Dirceu Silveira da Costa: Cerrito e Canguçu.
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Pedro, o pai do Bernardo Olavo Gomes de Souza.
Dirceu (Joaquim), o meu pai.
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Nos anos 50 e 60 do Século XX essa dupla marcou época em dois distritos que – graças aos esforços de ambos – se uniriam bem mais tarde em favor da criação do Município de Pedro Osório. Os dois Juízes de Paz enfrentavam chuvas e tempestades e, mesmo em estradas de chão batido, cumpriam com o seu dever diante dos noivos: – Eu, em nome da Lei, vos declaro casados!
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Testemunhamos muitos desses casamentos em nossa meninice, no lado de lá e no lado de cá do rio Piratini, e aprendemos a discursar em defesa de uma proposta emancipacionista na qual Cerrito deixaria de pertencer a Canguçu e Olimpo deixaria de pertencer a Arroio Grande. E então, por conta de uma grande e inesperada enchente, numa espécie de batismo através das águas, acompanhamos o entrelaçamento definitivo daqueles dois distritos dando vez a um só lugar, que passou a ser conhecido pelo nome de Pedro Osório.
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Pois foi numa noitada no Bavária que a deputada Hilda Regina de Souza, o secretário de Estado da Justiça Bernardo Olavo Gomes de Souza e eu – os três sem nenhuma pressa – examinamos tocantes pautas familiares e profissionais de nossas vidas. E nessa descontraída conversa ainda haveria tempo para a apresentação de um convite, este seguido por uma elegante recusa. Eu disse a eles, externando os meus mais sinceros agradecimentos pela generosidade da lembrança, que já estava definitivamente enraizado em Pelotas e que seria impensável abandoná-la, mesmo que Bernardo tivesse convencido Pedro Simon a entregar-me as funções de Encarregado das Relações Consulares do Governo do Rio Grande do Sul.
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Numa amizade que jamais sofreu arranhões ou sinais de indelicadeza, educados que fomos desde muito cedo pelos nossos pais, Bernardo e eu sempre levamos muito a sério aquela máxima segundo a qual o tempo dura bastante para aqueles que sabem aproveitá-lo. Hoje, tantas décadas depois, e nesta hora de lembranças, ainda ouço aquelas perguntas feitas pelos nossos pais: – A senhorita aceita fulano de tal por seu legítimo esposo? – O senhor aceita a senhorita fulana de tal por sua legítima esposa?
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Sim, sim, sim, esta foi a expressão que mais ouvimos lá na nossa meninice, ao testemunharmos a ação profissional dos dois abnegados Juízes de Paz, naquela que era uma interminável demonstração de aceitação por parte dos noivos, além da absoluta ausência de um “não”. Eram casamentos à antiga, registre-se, e todos eles muito bem pensados e projetados, vistos como marcas fortes de um Século então identificado pela firmeza de propósitos.
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Talvez por isso os nossos antepassados tenham insistido tanto num ponto, que jamais foi esquecidos por nós, os seus descendentes: o de que a sorte não existe. Aquilo a que chamas sorte é apenas o cuidado com os pormenores. (CR).
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