ARTIGO – HAVERÁ ENERGIA ELÉTRICA PARA A SAFRA 23/24 NO RS?

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HAVERÁ ENERGIA ELÉTRICA PARA A SAFRA 23/24 NO RS?

Não será um problema de oferta, mas de distribuição de energia!

Engenheiro Fabrício Iribarren.

Fabricio Iribarrem*

Estamos nos aproximando do final de setembro, fase em que se inicia o plantio das lavouras de arroz e de soja no RS.

Chegamos nesse momento com uma nova e grande apreensão, até então pouco vivenciada pelos agricultores do Estado: teremos energia elétrica pra atender os sistemas de irrigação das lavouras?

Essa pergunta se impõe frente a situação ainda experimentada por uma série de produtores, que relatam faltas de energia que se tornaram comuns por períodos de mais de 7 dias, em um momento que sequer estão funcionando as cargas de irrigação.

Redes de distribuição problemáticas, falta de investimentos que perpetuaram ao longo de décadas, e eventos climáticos que atingiram o Estado nos últimos 3 meses, deixaram o sistema com qualidade de fornecimento de energia absolutamente comprometido.

Reuniões com as distribuidoras, encontros com entidades de classe e agentes políticos foram realizados, porém sem uma melhora visível em condições de atendimento. Pelo contrário, os problemas se agravaram e a situação é crítica.

Os consultores técnicos de atendimento das distribuidoras já não têm mais posição concreta, e reconhecem que o problema poderá ser grave, sem uma solução resolutiva de curto prazo.

Os produtores já estão com grande parte dos investimentos realizados em preparação da terra, adubos, sementes, fertilizantes, equipes e máquinas. O plantio inicia em breve, terá janela curta pelas chuvas em boa parte das regiões, e eles precisam se preparar para o período de irrigação com antecedência.

Se nas safras anteriores o custo de energia para operação da irrigação era um desafio, para a safra 23/24 a distribuição com qualidade e a real existência de energia elétrica para irrigação (e na sequência para o pós-colheita) serão um desafio ainda maior em determinadas regiões do RS.

De maneira que é fundamental o produtor elaborar um plano de contorno de risco, dentre tantos outros, no que tange fornecimento de energia elétrica para a próxima irrigação.

Assim, e se historicamente você produtor e vizinhos tiveram em sua região: (i) problemas de qualidade de energia, cortes de fornecimento, oscilações de tensão, dificuldade de irrigação; (ii) nos últimos meses as faltas de energia se tornaram frequentes e extensas; (iii) após inúmeras reuniões e contatos com a distribuidora de energia, poucas ou nenhuma obra de recuperação por parte da distribuidora foram realizadas em redes e subestações; segue nossa indicação de um macro plano de risco:

  1. Notifique a distribuidora formalmente: indique os problemas enfrentados, os investimentos pré-plantio já realizados, e a data de início da operação de irrigação; solicite informações concretas sobre a situação e capacidade de atendimento das cargas contratadas; informe que todo e qualquer investimento no sentido de contornar a operação adequada da irrigação passará a ser quantificado; convide a distribuidora a acompanhar os levantamentos técnicos que passarão a ser feito no decorrer da lavoura para verificar
  1. prejuízos enfrentados pela má qualidade de energia; solicite que cumpra com os indicadores de qualidade determinados pelo Prodist da ANEEL, e peça que a própria distribuidora faça as medições de qualidade de fornecimento nos termos do Prodist, para verificar os níveis de tensão de energia;
  2. Relacione as cargas de irrigação e busque alternativas para uma solução concreta. Não conte com a solução por parte da distribuidora, e não deixe para solucionar a irrigação na última hora. Verifique as disponibilidades, prazos e valores de locação de geradores para atendimento as cargas;
  3. Meça e quantifique: busque acompanhamento especializado que comprove a falta de qualidade no fornecimento de energia elétrica, tanto do serviço (períodos de falta) quanto do produto (níveis de tensão); monte laudos de engenharia elétrica e de produção; solicite ao agrônomo informações claras de como está se desenvolvendo a produção, data de entrada da irrigação, diminuição de produção e perdas de produtos e/ou insumos; estruture laudos consistentes de engenharia. A construção dessas provas será fundamental para eventual recuperação de prejuízos;
  4. Monte um dossiê de investimentos realizados para contornar os problemas enfrentados; armazene notas de compra e suprimentos, emails trocados com fornecedores, contratos não cumpridos com clientes, protocolos de reclamação com a distribuidora, protocolos de falta de energia. Sempre que faltar, protocole a falta; crie um processo interno estruturado junto aos encarregados sobre qualidade de energia;

Sem dúvida estamos vivendo um retrocesso no que tange a produção de grãos, com mais um desafio imposto ao produtor. Mas, assim é a vida do agronegócio. Sendo desafiada constantemente.

Com um bom plano de contorno de risco, certamente o produtor passará por mais essa barreira.

*Engenheiro Eletricista e Advogado |Diretor GEBRAS

[email protected] +55 53 98115 0064