ARTIGO – OBRAS NOVAS E VELHAS PRÁTICAS POLÍTICAS

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OBRAS NOVAS E VELHAS PRÁTICAS POLÍTICAS

Paulo Gastal Neto*

*Radialista e integrante da equipe Treze Horas – Editor do www.pelotas13horas.com.br

Lamentavelmente e sistematicamente as campanhas eleitorais caem nas velhas práticas ancoradas no populismo e no casuísmo. É mesmo um processo de educação e formação política. O novo na política, após certo tempo, quase sempre se torna velho e também passa a se utilizar do arcaico e do modelo mofado daqueles que não conseguem aceitar rotatividade de poder como um elemento natural dos processos democráticos. A eleição de Pelotas, mais uma vez, nos remonta à elementos que parecem subestimar a inteligência de quem,  como eu, acompanha a política local há mais de trinta anos.

Não nos passa uma sensação confortável na disputa, ver o estado do RS protocolar no  Ministério da Saúde e dialogar com a bancada gaúcha no Congresso Nacional sobre a possível construção de um Hospital de Pronto Socorro em Pelotas (feito dia 7 de outubro), e imediatamente já fazer disso uma pauta da campanha eleitoral. Parece ser o exemplo clássico do populismo. Temos que ter muito cuidado neste momento com a nossa população sofrida que enfrenta uma pandemia e as agruras das necessidades diárias das limitações do sistema de saúde pública do país.

Por mais que se cobre dos políticos posições elevadas e altruístas, a necessidade que carregam consigo de se manter no poder as vezes lhes fala mais alto. A proximidade de uma eleição os impõe ações que talvez não tomariam noutro momento, quando estão em pleno gozo da racionalidade que se exige de um mandato delegado pela população. Se não vejamos: as grandes obras de um governo, seja ele federal ou estadual, em beneficio de um município, não deve nunca se atrelar a processo eleitoral. E se elas se fazem necessárias em específico período e as vezes o são, não podem fazer parte do debate, pois independem de vitória desta ou daquela matiz política para seguirem adiante. Um hospital ou uma estrada importante, uma ponte essencial ou uma escola necessária em determinado local, a duplicação de uma avenida ou a construção de um aeroporto, não devem se atrelar a vitória deste ou aquele candidato! É simples, pois se a obra é fundamental para uma comunidade não importa se o mandatário será do partido ‘A’ ou ‘B’! Isto é ser republicano, novo, moderno na política. As velhas e surradas práticas nos remonta ao caudilhismo antiquado e a tutela dos que se sentem superiores aos governados.

Tenho dito que a sociedade brasileira somente se elevará em questionamentos a partir de um amplo processo de educação básica. A construção de um povo com pensamento e com capacidade crítica, só será possível quando um vasto campo educacional se fizer presente e a disposição para todas as camadas da sociedade. Só assim seremos capaz de refutar a utilização da máquina pública em favor deste ou daquele candidato, com práticas ilusionistas nos processos eleitorais. É lamentável, mais uma vez, testemunhar situações em que governantes se aproveitam da fragilidade intelectual de uma maioria silenciosa, para utilizar a velha política. Em tempos de Halloween a fantasia foi quase perfeita. Bendita democracia que nos permite pelo menos opinar!