
Podcast -José Antônio Costa / Juca em uma de suas inúmeras participações no Treze – 23.07.1999
MEMÓRIA DO TREZE HORAS
JOSÉ ANTÔNIO COSTA – JUCA
O Memória do Treze Horas de hoje relembra mais um integrante da equipe do programa que deixou a sua marca entre nós: José Antônio Costa, o Juca Costa. Clayton Rocha, com o seu texto, nos trás lembranças do companheiro de viagens, integrante da equipe com sua polêmicas e picardia e o amigo em tantas jornadas.
Por Clayton Rocha
Fez várias Copas do Mundo: Espanha, México, França, Itália. Vivia em função do futebol e do tênis, e acompanhou Guga Kuerten em jornadas memoráveis. Era figura chave nos debates quentes do terceiro andar do Banlavoura e não levava desaforo para casa. Goleiro, marcou presença no seu amado Grêmio Atlético Farroupilha. Levou duro golpe da vida ao perder Humberto, o jovem estudante de Medicina, atingido surpreendentemente por grave doença em 1986.
Certa vez, Fernando Lessa Freitas e eu o seguimos, depois do 13 Horas. Informados do que estava acontecendo, deveríamos fazer alguma coisa: ele comprava a ZH do dia, levava uma cadeira de praia para o cemitério, e passava boa parte da tarde junto ao túmulo do seu filho. Ao visitá-lo lá, nossos argumentos foram desmanchados um a um diante do pranto sofrido de um pai apaixonado que se negava a aceitar aquela verdade. Foi ali, naquela tarde de abril de 1986, que tomei uma decisão: ele iria comigo para a Cidade do México e para Guadalajara, e ficaria quarenta dias fora do pais, para poder enfrentar as suas dores interiores e a própria vida.
Éramos amigos do peito e, se necessário fosse, brigava com qualquer um em minha defesa. Inesquecível Juca! Faz uma falta danada ao 13 Horas, onde sabia temperar o papo esportivo. Dava vida ao debate, era o primeiro a chegar e a propor o assunto do dia. Não poupava ninguém, suas falas eram diretas, no fim do outro, que acusava o golpe. Naquele tempo o futebol pelotense tinha três clubes com muitos craques e escalações na ponta da língua do torcedor. Juca voltou sofrido da Espanha 1982, aquela Seleção Brasileira era simplesmente encantadora.
Em 1998, na França, ele e Wolney Castro atuaram naquele Mundial ao lado de Paulo Francisco Gastal Neto, que mostrou-se incansável na organização das agendas de trabalho de nossa dupla pelos campos franceses. Nisso tudo, e neste tempo de depoimentos e de saudade, percebe-se a crueldade do tempo, esse que passa sem que se perceba o seu espírito traiçoeiro. Ele é impiedoso porque nem se deixa notar. Na correria profissional de cada dia ninguém silencia para meditar: estamos em 1998! Não, não estamos mais. Agora a conversa é outra, trata-se do ano 2020, e até o século já mudou. Depois de quase quarenta e dois anos de Debates, percebo que nada é mais forte que o hábito. Ao nos entregarmos às rotinas profissionais de cada dia nem mesmo o relógio de pulso é sinalizador do tempo consumido.
E até mesmo do notável pensador Ovídio costumamos esquecer, quando as páginas de suas obras insistem em sinalizar que os anos aproximaram-se silenciosamente. E que tudo em nós é mortal, menos os bens do espírito e da inteligência. ( CR, 21 de junho, inverno pandêmico de 2020).


