Travessia, do presente para o futuro…
Neiff Satte Alam*
O Rio Piratini, lá pela década de 30, não tinha uma ponte para que os pedestres e veículos se deslocassem de Vila Olimpo para a Vila Cerrito. Os moradores ou visitantes tinha que utilizar a ponte da Estrada de Ferro ou fazer a travessia em pequenos barcos movidos com remos. Era o que se tinha de tecnologia para se fazer o deslocamento de uma Vila para outra.
Com passar dos anos, foi construída uma ponte. Com pesada estrutura de ferro, permitia a passagem de veículos em um sentido de cada vez, resolveu os problemas de transporte, mesmo que fosse necessário esperar demorados minutos para que uma carreta de bois ou carroça enfrentasse os cento e poucos metros de vão. De novo a tecnologia qualificava o modo de transporte entre as duas Vilas. Felizes, os cidadãos foram favorecidos e desfrutavam desta fantástica ponte que encurtou os espaços e ampliou as relações entres os olimpienses e cerritenses. O Rio Piratini nem sempre aprovou estas tecnologias, pois se considerava reduzido em sua capacidade de enfrentar este obstáculo e, em duas oportunidades, arrancou a ponte que lhe oferecia resistência. Hoje, uma nova tecnologia de construção de pontes disponibilizou aos moradores de Pedro Osório, a antiga Vila Olimpo, uma travessia mais eficiente para Cerrito, antiga Vila Cerrito. Com estrutura moderníssima de concreto, vão maior e mais alto e com duas mãos disponíveis, a tecnologia de novo favorece a travessia de uma cidade a outra.
Em cada época ao longo do tempo as tecnologias disponíveis permitiam melhores e mais eficientes travessias. Faço esta análise para que se possa entender o que ocorre com a educação. Em cada época possuímos diferentes tecnologias para desenvolver os projetos político pedagógicos. Há muito tempo, utilizamos os quadros-negros, feitos de um material denominado lousa sobre o qual escrevíamos com giz em barras. Os livros eram escassos e de conteúdo limitado e os professores trabalhavam com essas dificuldades, além de serem muitas vezes precariamente preparados para a função, mais amadores do que profissionais, o que não lhes tirava o valor, pelo contrário, com tais adversidades se constituíam em verdadeiros heróis comunitários. A travessia dos estudantes do presente para o futuro acontecia com as tecnologias disponíveis, assim como a travessia do Rio Piratini na época em que não havia ponte, mas apenas barcos a remo.
Aos poucos as tecnologias disponíveis aos professores vêm permitindo um rendimento maior dos estudantes, desde que sejam utilizadas estas tecnologias, pois, assim como muitos habitantes da antiga Vila Olimpo e da não menos antiga Vila Cerrito se recusavam a utilizar a ponte e seguiam atravessando o Rio em seus barcos, também observamos que alguns professores resistem a utilização das tecnologias disponíveis, como é o caso da televisão, retroprojetores, computadores e Internet, ou não têm possibilidade de utilizar tais tecnologias em razão dos elevados custos financeiros dos aparelhos eletrônicos.
Desta forma, a travessia dos estudantes do tempo presente para o futuro, um futuro digno que permita uma inclusão verdadeira e altamente positiva, torna-se difícil e frustra o educador que não consegue atingir seus propósitos de uma construção de competências que permita uma inserção dos egressos das Escolas no seleto grupo de Cidadãos Livres e de Bons Costumes.
*Professor e integrante da Equipe Treze Horas