POVO QUE NÃO TEM VIRTUDE ACABA POR SER ESCRAVO
Giuseppe Riesgo*
O título que capitaneia esse artigo, nessa semana, fala por si só. Isso porque há tempos os gaúchos repetem esse trecho a fim de valorizar nossas virtudes em insurgência aos ataques contra a liberdade do nosso povo e da nossa forma de viver. Ou, em outras palavras, das nossas virtudes derivam a nossa liberdade e o nosso direito de trabalhar e viver em paz. Mas em que momento essa compreensão, então óbvia, se esvaiu?
Na semana passada, esse trecho do Hino Rio-Grandense virou destaque nacional quando cinco vereadores de Porto Alegre se recusaram a cantá-lo em suas posses como parlamentares. A acusação? Teríamos um hino racista, pois ao cantarmos esse trecho estaríamos supostamente afirmando que escravos (negros) não possuem virtude ao se deixar escravizar. Nada mais incorreto. A coisa tomou proporção e expôs a precariedade intelectual que a esquerda concede às pautas raciais e como trata levianamente o importante combate ao racismo.
Para explicar, o Hino Rio-Grandense foi concebido pelo maestro Joaquim José de Mendanha, que era negro. Teve sua letra construída pelo poeta Francisco Pinto da Fontoura, o “Chiquinho da Vovó”, que segundo acredita o historiador Ivo Caggiani foi criado pela avó, visto a ausência, junto ao nome de batismo, de sua mãe. Nessa época, a supressão da mãe nos registros significava ascendência indígena ou negra, ou seja, é considerável a chance de que tanto a letra quanto a melodia tenham sido compostas, à época, por negros.
Para além da composição, esse trecho da letra se refere as “virtudes romanas” e os perigos de sua ausência em um povo. Essa referência contextual se perdeu porque, em 1966, a pedido do Deputado Estadual Getúlio Marcantonio, o trecho “entre nós revive Atenas, para assombro dos tiranos. Sejamos gregos na Glória, e na virtude, romanos”, foi suprimido do Hino Rio-Grandense sob o argumento de que as pessoas não o cantavam. No entanto, seu contexto permanece. Um povo sem as virtudes pessoais e públicas de dignidade, verdade, respeito, liberdade, justiça, etc acaba por ser escravo, pois estas são as “virtudes romanas” que libertam o povo da escravidão e da subserviência.
Tudo isso no contexto Rio Grande do Sul versus Império, onde todo o nosso povo estava sendo “escravizado” pelos altos impostos e desmandos do governo central. Esse é o contexto do nosso hino e que fora sumariamente ignorado pelos vereadores em seu ato, supostamente, antirracista. Percebam que nada tem a ver com a cor da pele. Seja negro, seja branco, amarelo ou vermelho. Isso nem mesmo é mencionado no hino. Tem a ver com subserviência ao governo central.
No entanto, para além do desconhecimento de nossa história e do contexto da elaboração do Hino Rio-Grandense, o que os vereadores do PSOL, PT e PCdoB desejam mesmo é apostar no caos social para descontruir e rivalizar entre classes, credos e raças. Afinal, uma simples interpretação textual da letra já permitiria a compreensão do seu contexto.
As virtudes libertam e sua ausência escraviza. Simples e libertador. Só que unir a sociedade e libertá-la nunca foi o verdadeiro objetivo de quem encontra “racismo” no hino. O que eles querem é escravizar politica e ideologicamente os negros, os índios, os LGBTs, as mulheres e demais minorias sob uma retórica segregadora, que sempre foi o objetivo final da esquerda. Políticos e líderes sociais que fizeram dessa (suposta) defesa dos oprimidos o seu meio de vida em sociedade, hoje destilam ódio e proselitismo na pauta sem alcançar nenhum resultado prático na melhoria de vida das minorias que estes afirmam defender. Segregar, desunir, separar e conflitar são apenas tautologias para que a esquerda continue escravizando politicamente pessoas vulneráveis sob um discurso social de inclusão e igualdade. Defendem a diferença, desde que favorável a eles. Defendem o diálogo, desde que concorde com eles. Nada mais falso. Nada mais ineficiente.
A minha esperança é que boa parte da nossa sociedade já percebeu a estratégia. Já notou que a desconstrução da nossa civilização é o caminho escolhido pela esquerda para estatizar nossos meios, nos relegar à miséria e, assim, escravizar politicamente nosso povo. É da manutenção da nossa cultura, do fortalecimento da democracia liberal e do desenvolvimento da liberdade que expandiremos as conquistas dos últimos séculos para todos os povos. Enquanto os liberais colhem resultados e melhoram a vida das pessoas, a esquerda segue demonstrando sua falência intelectual e sua pequenez política. As virtudes romanas presentes em nosso hino é que nos libertarão; não a patética lacração da esquerda. Viva o Hino Rio-Grandense. Vivam as nossas virtudes. Sirvam as nossas façanhas de modelo a toda terra.
*Giuseppe Ricardo Meneghetti Riesgo é Deputado Estadual pelo Partido Novo, advogado, empresário.