ARTIGO – MINIBOOK DO BEHRENSDORF – O TRAPEZISTA SEM REDE

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MINIBOOK DO BEHRENSDORF

O TRAPEZISTA SEM REDE

Volume I 2019

Carlos Eduardo Behrensdorf

Prefácio

Início da década de 50. Eu era aluno do Colégio Municipal Pelotense na Félix da Cunha esquina com Tiradentes. Lá, ouvi um experiente professor de português dizer o seguinte sobre erros e acertos ao escrever: “O uso consagra a forma”. Acredito nele até hoje.

Introdução

Nápoles. Ruelas fazem uma exposição de calças, calcinhas e calções, cuecas, cuequinhas, cuecões, camisas, camisinhas, camisões, blusas, toalhas, fronhas e lençóis. Ao atravessar uma rua em obras pulo pra lá e pra cá. Penso que sou um trapezista saltando sem rede.

Capítulo I

Turismo rápido

Tempo

Se dinheiro não é lá essas coisas em matéria de disponibilidade, o tempo também encolhe. Ninguém conhece uma capital em dois dias. Como a idealização nem sempre harmoniza com a realidade, façamos de conta que encontramos e curtimos imagens guardadas e até mesmo sonhadas.

Relato

Como sou muito suscetível às oscilações cambiais recorro aos cadernos de turismo dos nossos jornais. Recomendo aos mais “travados” iniciar seu relato das rápidas viagens assim: “Do que vi por onde passamos trouxe uma certeza: nunca o mundo ocidental foi tão igual”. Não falha!

Janelas

Olho a montanha gelada com cidadezinha no sopé. Entro num “desenho” do Walt Disney. Revejo montanhas com olhos grandes e boca torta. Árvores velhas falam lentamente com voz grossa. Os cinemas da infância não deixaram o endereço. Sobrou a paisagem que a janela do Eurostar mostrou.

Capitulo II

Plano sem piloto

Símbolo

Há em Brasília uma réplica em bronze da loba capitolina amamentando Rômulo e Remo. Diz a voz das ruas que grande parte dos malandros federais que para cá vieram não entendeu a mensagem do símbolo e continua mamando até hoje, apesar da maioria deles ter idade avançada.

Suetônio

Escreveu o historiador em “A Vida dos Doze Césares”, que César, ao ser golpeado, não pronunciou frase alguma. A lenda narra um aviso feito por Calpurnia Pisonis, a mulher de César, após um sonho e um presságio terrível. César ignorou-a dizendo ”… Só se deve temer o próprio medo”.

Deserto

Período da seca no Planalto Central. A temperatura atinge os 35 graus e os índices de umidade baixam aos 10%. Quem trabalha de terno e gravata entra e sai do ar condicionado. É cruel. Ouvi de um ascensorista no Congresso Nacional: “Tanto manda chuva por aqui e não cai um pingo”.

Capitulo III

Sacro e profano

Aleluia

Na Catedral de San Genaro a cabeça do santo está dentro de um busto prateado e o sangue num relicário.  Festeja-se a liquefação do sangue nos dias 19 de setembro, 16 de dezembro e no sábado anterior ao primeiro domingo de maio.  O sangue se liquefaz? Aleluia! Não? A barra pode pesar.

Vaticano

Visitei a Basílica de São Pedro. Sufoquei. Vi pompa e vaidade na morgue emparedada com os papas lembrados ou não. O mármore tem movimento em suas dobras tal qual um lençol que se sacode antes de estendê-lo sobre a cama, num abano lento. O que fizeram aqueles papas pelo rebanho?

Pompéia

Nada mudou nos chamados jogos amorosos. Na Via Stabiana, casa 52, um bordel para os pecadores. Este é mais espaçoso do que os outros que vi: tem dez camas em dois andares. As casas para encontros libertadores da libido reprimida ficavam em ruas secundárias. Sabe como são os vizinhos…