Pelotas, cidade resiliente
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Paula Mascarenhas*
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Na quarta-feira passada, os mapas meteorológicos apontavam que os efeitos do ciclone extratropical que atingiria o Rio Grande do Sul seriam mais severos na região de Porto Alegre e na parte norte do Estado. Mesmo assim, reunimos, naquela manhã, integrantes da Defesa Civil, das forças de segurança, da concessionária de energia, além das equipes da Prefeitura e do Sanep para que pudéssemos nos preparar caso ocorressem reflexos na cidade.
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Durante aquele dia, no entanto, as condições climáticas mudaram rapidamente. A chuva se avolumou muito e os ventos se intensificaram. O ciclone alterou sua rota. Pelotas e a região sul passaram a ser um dos epicentros do fenômeno.
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Em questão de algumas horas, o vento forte, que alcançou 90 km/h, devastava pontos da cidade, derrubando árvores, muros, postes. A chuva não deu trégua, chegando a 140 milímetros em 24 horas. Grande parte de Pelotas ficou às escuras. A falta de energia afetou a produção e distribuição de água. Vidas estavam sob risco.
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As equipes do Município, em conjunto com a Defesa Civil do Estado e Corpo de Bombeiros, atenderam, incansavelmente, centenas de solicitações de ajuda, desobstrução de vias, destelhamentos e fios ainda energizados soltos. A sala de situação on-line que montamos não parou um minuto durante todo o período em que o ciclone agia. A cada mensagem aumentavam a tensão e a preocupação com as pessoas. A cada minuto mais e mais casos se avolumavam. O cenário era de devastação.
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Apesar das nossas restrições, o trabalho integrado de todas as equipes funcionou de forma rápida e eficaz. Servidores dedicados a Pelotas, sem descanso, cortaram cerca de 300 árvores e galhos caídos, reabriram ruas, retiraram escombros e cobriram com lonas casas destelhadas. Atenderam cerca de 70 moradores de rua e também seus cães nos abrigos. Distribuíram alimentos, agasalhos e colchões a quem precisava. As unidades de saúde reabriram, mesmo sem luz. O Sanep retomou os serviços na medida em que a estações voltavam a operar. Demos todo apoio possível à CEEE-Equatorial para atender os mais de 130 mil pontos da cidade que ficaram sem energia. Famílias ficaram incomunicáveis por horas e as ajudamos a reconectá-las, acabando com os momentos de angústia.
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Temos muito trabalho pela frente. Serão dias desafiantes, de reconstrução e de reorganização do Município. Mais de 40 escolas municipais foram afetadas e, durante o período de férias escolares, vamos trabalhar para reformá-las e reabri-las o mais breve possível. Muitas pessoas ainda precisam de ajuda e estamos pedindo mais uma vez à população solidária de Pelotas a doação de alimentos, roupas e materiais de construção. Estamos prontos para receber e distribuir a quem necessita. Peço a atenção de todos para que casos como ocorreu neste domingo de um cidadão que estava cortando um tronco de uma árvore caída e sofreu um acidente fatal não se repita. É mais seguro aguardar pelo socorro do que tentar resolver o problema pelos próprios meios.
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Contamos com o empenho de todos para que a cidade se erga. Pelotas é uma cidade resiliente, que mesmo atingida em cheio, se regenera rapidamente. Estamos finalizando um plano municipal de resiliência, que nos ajudará a enfrentar desastres como esses e outros problemas, de ordem natural ou não, de forma ainda mais eficiente e organizada no futuro. As mudanças climáticas são reais e se tornaram desafios para a humanidade, precisamos agir em conjunto para minorar seus efeitos. Pelotas merece esse esforço.
*Prefeita de Pelotas