O VAZIO DO PODER
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Ivon Carrico*
Em uma bonita tarde do inverno europeu, em 2015, estávamos em Viena, na Áustria, prestes a tomar o trem rumo a Budapeste, na Hungria.
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Após os trâmites da imigração nos acomodamos – então – na cabine do trem, a qual foi dividida com uma família búlgara constituída pela mãe e duas filhas adultas.
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Ao saber que éramos brasileiros, a matriarca dessa família ressaltou e enalteceu, assim, a origem búlgara da nossa então Presidenta.
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Claro que ficamos lisonjeados e tocados pela distinta lembrança. Só que não imaginávamos – entretanto – o que estava por vir.
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A referida senhora – em um Inglês rudimentar (o pessoal do antigo Leste europeu não tem lá essas proficiências no idioma de Shakespeare) – logo lascou: “pois é, mas a Senhora Presidente(a) está envolvida em muitos desmandos”.
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Confesso que ficamos aturdidos mas, educadamente, passamos a defender o nosso País e o sistema de governo, pois não dava para aceitar palavras tão inoportunas.
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Não sei, todavia, se fomos muito convincentes, eis que difícil defender – àquela ocasião – a anomia do Poder então existente no Brasil. Tanto que um ano após ocorreu o propalado Impeachment.
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Bem, essas reminiscências vem ao caso diante da situação análoga em que se encontra hoje o País – onde figuras de ambos os lados se debatem em uma acalorada e inócua frente que evidencia – acima de tudo – uma clara ausência de lideranças e de projeto de Poder.
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Esse acirrado e chocho confronto ideológico, está a causar – assim – uma incômoda instabilidade política.
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O que mais precisamos neste momento – entretanto – é avançar no concerto de nações.
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Inadmissível e, mais do que inadequado, qualquer apologia de uma possível ruptura político-institucional.
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*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. (Brasília, 27/06/2021)